Coluna-Ponto-de-Vista-1

A estreia da coluna "Falando em música..."

A partir de hoje o blog passa a ter mais uma colunista de renome. Cibele Ambrozzi Corrêa, talentosa cantora local e conhecedora de música passa a assinar a coluna "Falando em música..." Seja bem vinda!


Cibele Ambrozzi Corrêa 
Colunista do blog

MPB 

Mas afinal o que significa esta sigla? Muitos responderão que é “Música Popular Brasileira”, mas o âmago da questão ainda não é bem compreendido. Para alguns, refere-se a tudo que é produzido música e culturalmente no Brasil, considerando o axé-music de Ivete Sangalo, o sertanejo-universitário de Luan Santana ou até mesmo a sensação do momento, Michel Teló. Para muitos historiadores da música não é tão simples assim decifrar esta incógnita. Para se chegar a uma conclusão do que se trata Música Popular Brasileira, é preciso analisar a história que a música percorreu até os tempos de hoje.
No início, com a descoberta do Brasil, houve a miscigenação da tríplice influência dos negros, índios e espanhóis, que com seus ritmos amalgamados deram origem à música com identidade brasileira, sendo que em cada região determinada influencia prevaleceu mais que outra. 

Com a expansão das grandes cidades e a demanda populacional, eis que surgem dois ritmos: a modinha e o lundu, que mesclados, desencadearam vários outros gêneros musicais. A modinha, de origem européia, trazia um som suave e erudito, enquanto o lundu, de origem africana, era uma dança sensual, com certa malemolência, dançada pelos negros. 
Após um longo período surge o choro, popularmente chamado de chorinho, com Joaquim da Silva Callado. Quem na época também se destacou foi Chiquinha Gonzaga (compositora da primeira marcha carnavalesca o “Abre Alas”). 
No inicio do século XX, aparece o samba (festejos realizados na casa da “Tia Ciata”), com Caninha, Donga, Sinhô, Pixinguinha, dentre outros. Já na década de 30, com o radio e as gravações, surgem vários protagonistas da musica brasileira, como Ary Barroso e Zequinha de Abreu, Lamartine Babo (compositor de “O teu cabelo não nega”), Dorival Caymmi, Lupicínio Rodrigues e Noel Rosa e ainda, Carmen Miranda, Mário Reis e Francisco Alves. 
Em 1945, o Rei do Baião, Luiz Gonzaga (homenageado pela escola de samba Unidos da Tijuca neste carnaval), deu continuidade às músicas de origem brasileira, visto a crise que a música começara a enfrentar com o fim da guerra e a importação de músicas norte americana. 
Em meados dos anos 50 surge a Bossa Nova, uma aglutinação do jazz ao samba, sem perder a sua brasilidade, sendo três os principais personagens deste gênero musical: João Gilberto, Antonio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes, a letra, o ritmo, a melodia e harmonia, respectivamente. 
Com os festivais e a crescente popularização da televisão nos anos 60, a música brasileira ganhou as ruas e as rádios e se tornou bastante conhecida, mas também sofreu muitas influências, foi aí que a sigla “MPB” aparece no mercado fonográfico nacional. Os principais protagonistas da época foram: Chico Buarque, Edu Lobo, Milton Nascimento, Caetano, Gil, Ivan Lins, Gonzaguinha, Elis Regina, João Bosco, Geraldo Vandré, alguns, de certa forma expressavam em suas canções a indignação pela ditadura militar, burlando, com o jeitinho brasileiro, a censura da época (1968-1985). 
Através de pesquisas feitas sobre a história da música, percebe-se que a sigla “MPB” não significa necessariamente “Música Popular Brasileira”, não no mesmo sentido que tal denominação foi colocada no inicio da sua existência, pois o “popular” se referia às músicas não eruditas, tocadas pela classe menos favorecida. 
A questão é que tal sigla começou a ser utilizada a partir dos anos 60 (anos duros da ditadura militar), graças à falta de identidade que a música brasileira estava sofrendo devido às influencias de gêneros musicais vindos de fora, como o rock da “Jovem Guarda” - Rede Record - influenciados pelos Beatles e o estilo iê-iê-iê (yeah-yeah-yeah americano) que roubavam a cena e ganhavam preferência em gravadoras. 
A bossa nova cada vez mais perdia seu espaço para as guitarras elétricas dos grandes festivais de música veiculados pela televisão (o grande movimento tropicalismo onde ocorria o sincronismo de ritmos como: rock, a própria bossa nova, baião, samba, bolero). Grandes cantores e compositores da MPB utilizaram desta sigla nacionalizada, para protestarem e se diferenciarem de tais influências e gêneros musicais, que vinham de fora e que não mais abordavam sobre a intelectualidade, mas que estavam ganhando a preferência no mercado, nas ruas e tomando conta do Brasil. 
Daí em diante, esta sigla passa a designar não mais toda e qualquer música produzida pelas classes populares do Brasil, pois ela passou a ser considerada um gênero de música nacional mais intelectualizado, composto por aqueles que lutaram pela permanência da música brasileira em uma época de falta de identidade e liberdade cultural. 

12 comentários:

  1. Uma correção: o Brasil foi formado por negros, índios e portugueses.
    Não espanhóis, como diz o texto

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  2. Boa observação, na verdade eu quis me referir aos europeus, não somente aos espanhóis, perdão pelo equívoco!
    Grata :)

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  3. Excelente texto cibele, parabéns.
    E como diria Nelson Rodrigues: "O que se está fazendo aqui é uma música popular brasileira que não é popular, nem brasileira e vou além: — nem música."

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    1. Concordo, não se faz mais "MPB", não na sua essência!
      Grata, fico feliz que tenha gostado! ^^

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  4. Muito bom Cibele.. é como eu costumo dizer a MPB deixou de ser música popular brasileira para virar um estilo musical, e infelizmente a musica popular, ou seja a mais ouvida pelo povo brasileiro hoje em dia é de péssima qualidade.

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  5. Parabanes amiga Ciba....

    Pesquisa, coerência, e clareza.... vamos aguardar pelo próximo...

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  6. Ficou ótimo o texto Bi!! Perfeito!!

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  7. Adorei muitooo Bele!! Esperando o próximo..heheh. BeijoO

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  8. Interessante o recorte. vale a pena investigar o paralelismo com o que ocorreu com as diversas vanguardas latinoamericanas (Canto Popular Uruguaio, Argentino, chileno, Nueva Trova cubana) e a forma como elas se relacionaram com as formas de expressão tradicionais.

    Abraço

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    1. Sim, são tantas as histórias a serem exploradas Professor, com certeza terei o prazer de pesquisar a respeito!
      Grata pela sugestão! :)

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  9. Muito legal o artigo, parabéns ao Coluna Ponto de Vista e nova colunista Cibele Corrêa, falar de música sempre é bom e ler a respeito é maravilhoso. Parabéns.

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    1. Fico feliz que tenha gostado, eu particularmente amo a música, pesquisar e escrever a respeito, pra mim, está sendo o maior prazer!! ;)

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