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Textículos do Mário Mércio

Mário Mércio
Escritor e colunista do site

CIVILIZAÇÃO DE OTÁRIOS
Um dos filmes que concorreram ao Oscar, Boyhood, é sem dúvida um triunfo artístico e uma grande sacada, melhor: um ovo de Colombo da cinematografia mundial. Mas, independente do mérito, ele é um exemplar modelo do espírito que vivemos hoje em dia. Assim como o pau de selfie, o filme representa uma característica definidora de nossos tempos. E não necessariamente positiva, nos diz o jornalista André Moraes.
É a armadilha real. Estamos como cultura, obcecados pelo realismo. Está ai o sucesso dos Big Brothers.
Não basta mais a imaginação. Precisamos cada vez mais nos assegurar de que algo foi feito sem artifícios- mesmo que isso seja a derradeira ilusão. E o exemplo está bem ai na nossa cara quando ligamos a TV e vimos que elegemos gente, iludidos por promessas vãs e mentirosas.
Uma selfie é isso, o retrato supostamente sem embustes, sem preparação, onde aparecemos com cara de pateta em algum cenário. E achamos ótimo. Os reality show são isso e o Boyhood também é isso, contando uma história fictícia, com recursos temporais que não são fictícios. É difícil de explicar, mas se você ver o filme vai entender. Isso é uma deformação cultural porque estamos tão preocupados em catar a realidade dentro da ficção, que passamos a ignorar estupidamente a própria ficção dentro da realidade. E isso o filme explora bem!
Graças à nossa falta de abstração, à nossa progressiva dificuldade em aceitar realidades imaginadas, parecemos já capazes de identificar mistificações de qualquer discurso bonito.
Todos os dias aceitamos vídeos pelo celular ou pelo YouTube como realidade, facilmente editados. Aceitamos notícias no Facebook , anúncios, boatos e depositamos a mais ingênua fé e saímos por ai a divulgar como bobos da Corte e imbecis idiotas. Foi assim com os demagogos que riem de nós todos os dias locupletados e nababos acreditados.
Sim, nos garante o André Moraes, viramos a civilização dos otários.
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