Coluna-Ponto-de-Vista-1

Sim, eu acredito em 2016

Tarso Francisco Pires Teixeira
Presidente do Sindicato Rural de São Gabriel
Vice Presidente da Farsul

Antes de começar, um necessário aviso aos navegantes: não, esse artigo não é um texto de auto-ajuda nem uma mensagem eivada de otimismo natalino. Pelo contrário, devo começar dizendo que, se 2015 foi um ano ruim em diversos sentidos, 2016 já nos antecipa que não será um ano nada fácil. Na verdade, alguns economistas que analisam com lupa o cenário vindouro, já anunciam que o ano que virá nos fará sentir saudades de 2015. Especialmente no agronegócio – setor que, até aqui, vinha resistindo bravamente à crise que atingiu todos os demais segmentos da economia – a crise terá não somente batido à porta, como também vai entrar sem pedir licença.
Empresas que negociam com produtos primários, como o arroz e o soja, já estão apelando para recuperações judiciais diante da impossibilidade de honrar seus compromissos com os fornecedores. A insolvência reinante paralisa o crédito. Os bancos, temerosos tanto pela crise financeira quanto pela Operação Lava-Jato, que levou para atrás das grades algumas das principais eminências do setor, fecha as portas ao crédito, o que prejudica especialmente o agronegócio. O produtor, descapitalizado, depende em grande parte do crédito bancário para financiar a produção. O agronegócio é como uma bicicleta: se parar de rodar, a tendência é, realmente, um tombo.
Enquanto isso, a crise política parece que continuará impedindo que o país consiga colocar os freios de arrumação necessários para o ajuste fiscal. Já na semana passada,um senador da República, fortemente ligado ao governo federal, autor da proposta infame de repatriação de recursos ilegais de brasileiros no exterior, foi parar atrás das grades por oferecer fuga a um dos delatores da Operação Lava-Jato, enlameando, de quebra, a reputação de ministros da mais alta Corte Constitucional do país, mostrando que, de todas as crises, a pior é a institucional – que ameaça as bases fundamentais da República.
Mas então, porque dizer que ainda acredito em 2016? Porque, apesar de o cenário contribuir para desacreditar, o ano que se encerra trouxe, sim, motivos de esperança. Não o tipo de esperança desinformada dos otimistas incuráveis, mas sim uma esperança realista, efetiva, que não decepciona. Sim, o governo fez o que podia e até o que não podia para solapar a credibilidade das instituições. Mas elas resistiram de tal maneira que, até aqui, já são 41 presos pela Operação Lava-Jato, e neste meio estão banqueiros, deputados, ex-ministros e até um senador da República. Não é pouca coisa, para um país que há pouco tempo queixava-se que a lei não valia para poderosos.
A credibilidade do próprio processo eleitoral, com as urnas eletrônicas abatidas pela desconfiança geral da população, obrigou o sistema a se rearranjar. Poucas semanas depois de o Senado aprovar o voto impresso gerado pela urna eletrônica, o TSE alega motivos financeiros para decretar a volta das cédulas de papel – usadas nas maiores democracias do mundo, sem grandes atropelos. Sai de cena uma máquina que nunca agradou, retorna a cena o bom e velho papel, que é palpável e pode ser recontado.
Uma democracia de fato nunca é uma obra acabada. Há problemas, como em toda construção. Mas sim, eu acredito em um 2016 onde a sociedade brasileira acostume-se com os benefícios da transparência na coisa pública. Os ratos ainda são muitos no navio, mas os batalhões de higiene estão trabalhando.
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