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A Romaria dos Equívocos

No feriado da terça-feira de Carnaval, São Gabriel sedia um evento que está sendo anunciado com grandiloqüência no site oficial da Prefeitura Municipal: a 39ª edição da Romaria da Terra, principal mobilização da chamada “ala progressista” da Igreja Católica no Rio Grande do Sul, organizada por entidades como a Regional Sul 3 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Conselho Indigenista Missionário, Comissão Pastoral da Terra e – nenhuma surpresa – o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, que embora nem personalidade jurídica tenha, é acolhido e aceito entre os organizadores de um evento dito religioso. Os objetivos autoproclamados do evento, são os de celebrar os 260 anos do martírio de Sepé Tiaraju em terras gabrielenses antes de São Gabriel existir, enfatizar a defesa dos “pobres e deserdados da Terra” e comemorar o “êxito” da experiência dos assentamentos da reforma agrária no Município, “conquistados com muita luta”, numa clara referência aos movimentos que, desde 2003, colocaram o MST contra o agronegócio organizado da região. 
Pois bem, a se dar crédito a estes propósitos, com certeza esta romaria político-religiosa poderia muito bem ser chamada de “Romaria dos Equívocos”. Primeiro, pelo proclamado objetivo de celebrar Sepé, apossando-se de forma indevida da história do guerreiro guarani. Há dez anos, em 2006, quando os mesmos grupos se prepararam para celebrar os 250 anos de sua morte, denunciei o uso que se faz da figura de Sepé Tiaraju como se fosse um “Che Guevara de cocar”. A idéia de que Tiarajú foi uma espécie de “precursor” do MST é rechaçada por instituições que realmente cultivam a história gaúcha, como o MTG e o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. 
A idéia de que o evento poderá celebrar os “êxitos” dos assentamentos rurais em São Gabriel, não merece maior consideração. Quando o presidente Lula anunciou a desapropriação de uma área de mais de 12 mil hectares em São Gabriel, no distante ano de 2003, finalmente concretizada em 2008, já denunciávamos o modelo de assentamentos rurais do Incra como um desperdício de dinheiro público. Hoje, tantos anos depois, o retorno da respectiva área para os tributos do Estado decresceu absurdamente, assim como a produtividade. Um local que era celeiro de pecuária de ponta, hoje produz índices preocupantes de abigeato, violência intra-familiar e outros casos de polícia.
Por fim, o último e talvez maior equívoco, seja esta idéia de que esta Romaria, evento máximo da Teologia da Libertação no Estado, seja uma forma de a Igreja Católica abraçar a “opção preferencial pelos pobres”, conforme consta na Declaração Episcopal de Puebla de 1979. Se de fato pretendem defender os mais pobres, o discurso dos romeiros deveria ser a favor do agronegócio, que é quem de fato garante alimento barato na mesa dos brasileiros mais pobres. Ao posicionar-se contra o direito de propriedade, a Igreja acaba assumindo a defesa dos poderosos que financiam as atividades ilícitas do MST, que produzindo a desordem no campo, nada mais é do que lacaio das corporações internacionais inimigas do agronegócio nacional. 
Sou católico, como a imensa maioria dos produtores rurais de nossa região. No entanto, quando a Igreja Católica gaúcha abraça movimentos desta natureza, distancia-se da Igreja que ensinou, através de encíclicas como Rerum Novarum, Populorum Progressio e diversas outras, que o socialismo é uma forma de atraso social e um crime contra a humanidade. A Romaria acontecerá, e passará. Mas os equívocos de quem lida com as coisas espirituais, são equívocos eternos.
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