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Espaço do leitor

Brilhante e Marighella: um debate necessário

Tarso Francisco Pires Teixeira 
Presidente do Sindicato Rural de São Gabriel 
Vice Presidente da Farsul

O julgamento das pedaladas fiscais de Dilma Rousseff avança no Senado Federal, mas o país ainda discute um fato polêmico transcorrido semanas atrás, durante a votação da admissibilidade do impeachment pela Câmara dos Deputados: O momento em que o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC/RJ) dedicou seu voto ao falecido coronel gaúcho Carlos Alberto Brilhante Ustra, até hoje a única autoridade do período do regime militar efetivamente punida sob a alegação de tortura. O episódio causou celeuma em todo o país, com diversos partidos e organizações da sociedade civil (a OAB entre elas) pedindo a cassação do parlamentar, misturando indignação seletiva, cinismo político e populismo rasteiro.
Nos dias em que o fato ocorreu, cheguei a pensar que o deputado, que é pré-candidato à presidência da República, havia dado um “tiro no pé” com essa saudação, espantando potenciais eleitores mais moderados, ao identificar-se com um segmento mais à direita do espectro político. No entanto, nesse Brasil nervoso onde as notícias envelhecem com facilidade, Bolsonaro conseguiu trazer à tona uma discussão que teima em ser narrada sempre sob o prisma da esquerda: o passado violento do regime militar, e a verdade por trás daqueles anos, os quais, para o bem ou para o mal, ainda repercutem na política brasileira, meio século depois. Uma quantidade expressiva de pessoas- especialmente jovens – cada vez mais rejeita a narrativa construída pela esquerda sobre os anos do regime e a confrontação violenta entre as Forças Armadas e organizações terroristas de esquerda.
Na mesma sessão plenária, o deputado Glauber Braga (PSOL/RJ) dedicou seu voto contrário ao impeachment, à memória de Carlos Marighella, guerrilheiro ligado à Var-Palmares e outras organizações terroristas, que promoveram a subversão armada contra o regime militar. Hoje, os livros de história enviados pelo Ministério de Educação às escolas de ensino médio, contam que estes guerrilheiros lutaram pela democracia, quando seu ideário pretendia substituir o regime militar pela ditadura do proletariado. O manual de guerrilhas de Marighella, ainda hoje disponível para quem quiser procurar na internet, descrevia como fazer do militante comunista “uma fria máquina de matar”. No entanto, a saudação a um assassino, que realmente pegou em armas, torturou e matou, nem de longe causa a mesma indignação. 
Sim, não há dúvida que houve violência condenável nesse período. Mas os únicos até hoje punidos, foram os agentes do Estado, que protegiam o cidadão de quadrilhas que mataram, torturaram e promoveram atentados em nome do Socialismo. Além disso, a democracia brasileira foi construída sob a égide da pacificação e da anistia, que é cláusula pétrea da Constituição e foi exigida, na época, pelos próprios militantes da esquerda. 
Ao fim e ao cabo, Bolsonaro teve um mérito: o que está em jogo, mais do que a cadeira da presidente da República, é a disputa sobre uma narrativa histórica. Finalmente, o outro lado está sendo contado. 
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