Coluna-Ponto-de-Vista-1

Espaço do leitor:

O Brasil que eu quero?

Rossano Dotto Gonçalves
Prefeito de São Gabriel 

Desde março deste ano, vem sendo exibida na TV uma série intitulada “O Brasil que eu quero”, uma interessante oportunidade para que os brasileiros expressem o que desejam para o país nestas eleições. Invariavelmente, os vídeos exibidos giram em torno das mesmas aspirações: mais educação, mais saúde, menos corrupção, um país com mais decência e menos políticos corruptos. Desejos legítimos, mas que precisam passar pela análise necessária sobre a coerência entre nosso discurso, como povo, e nossa prática cotidiana.
Não existe uma corrupção dos políticos, separada da corrupção dos outros seres humanos. Políticos não são extraterrestres. São pessoas eleitas por outras pessoas para a missão de administrar a “polis”, a comunidade, e seus eventuais vícios e virtudes são, em certa medida, reflexo de hábitos da sociedade que os elege.
Todos querem educação de qualidade, mas muitas famílias não se importam em matricular os filhos na escola na idade certa, obrigando o Poder Público a realizar busca ativa. Todos querem Saúde digna, mas alguns procuram o agente político para “furar a fila” do atendimento ou do procedimento médico, não levam seus filhos e idosos às campanhas de vacinação, e quando fazem um exame custeado pela rede pública, muitas vezes não vão sequer buscar o resultado. Todos reclamam da segurança, mas alguns, em segredo, consomem a droga que financia a violência e a morte de nossos jovens. Todos querem moralidade na gestão pública, mas vão ao político pedir um “jeitinho” para fazê-lo passar na prova de habilitação de motorista, ou ainda, burlar a ordem de classificação para nomeação em concurso público. Todos querem a proteção do meio ambiente, mas continuam colocando lixo fora dos horários de recolhimento e dos locais apropriados. Todos querem um trânsito mais seguro e melhores rodovias, mas já vi gente se orgulhar de conseguir burlar o pedágio. Em resumo, todos querem mudança, mas poucos querem mudar.
Estamos sempre esperando que outros mudem o país por nós: uns pedem intervenção militar, outros querem o ativismo do Judiciário e do Ministério Público, atrofiando o equilíbrio dos demais Poderes, e outros ainda vão atrás dos “Salvadores” da vez, os ditos “não-políticos” – muitos deles, estranhamente, com décadas de vida partidária.
É fácil transferir responsabilidades, tão fácil quanto ilusório. A política é a gestão da sociedade, e para mudar a política, as pessoas precisam mudar. Deixar de recorrer aos atalhos, evitar a compra da peça de carro proveniente do roubo, da carne que vem do abigeato, do produto pirata. Um país não é democrático somente quando os direitos são para todos, mas especialmente quando as leis, as normas que são base de qualquer civilização, são por todos respeitadas e cumpridas. 
Nossa democracia é imperfeita justamente porque ela é a soma de nossas imperfeições. Quando a sociedade se civilizar e se educar moralmente para a vida pública, teremos políticos melhores, porque teremos cidadãos melhores. 
Este é o Brasil que eu quero. E você?

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