Coluna-Ponto-de-Vista-1

SiSU: concorrência bagual

       Para a coluna de estreia de um recém formado pelos bancos acadêmicos, me ocorreu que não havia melhor tema do que a luta pelo ingresso no Ensino Superior. Ontem foi divulgada a lista dos classificados no Sistema de Seleção Unificada (SiSU), do governo federal. O processo, que recebeu 793,9 mil inscrições de estudantes de todo o Brasil entre os dias 29 de janeiro e 3 de fevereiro, utilizou a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) para selecionar candidatos a 974 cursos entre 51 instituições públicas de ensino superior no país.
       A Fundação Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), com campus em São Gabriel, ofertou 2.465 vagas em 50 cursos de graduação, e o nível da concorrência superou as expectativas dos candidatos da fronteira.
       Acompanhei nos últimos dias as etapas de inscrição de meu irmão mais novo, Roberto, e pude perceber alguns aspectos interessantes do processo. Os dois primeiros dias foram caóticos, e mostraram que o Ministério da Educação (MEC) não estava preparado para administrar o grande número de acessos que superlotou a rede. Muitos estudantes não conseguiram acessar o sistema. Nas cidades do interior, onde a maioria das residências ainda não dispõe de conexão banda larga o problema foi ainda pior.
       No segundo dia os acessos foram normalizados, cerca de 500 mil candidatos conseguiram realizar a inscrição. Ao ingressar no sistema, o estudante conferia sua nota em cada uma das quatro áreas do ENEM e também da prova de redação. A partir daí, era possível pesquisar os cursos oferecidos pelas instituições e a nota de corte calculada com base nas inscrições feitas até às 23h59 da noite anterior. Esse número era recalculado todos os dias até o fim das inscrições na quarta-feira (03/02).
       Como os candidatos podiam tentar uma vaga em qualquer uma das 51 instituições cadastradas, a concorrência surpreendeu os participantes. Na UNIPAMPA, em que a disputa nos últimos processos seletivos foi baixa, o índice de candidatos por vaga cresceu. A causa para o aumento na procura está na descoberta da universidade por estudantes de outras regiões do país. Após a divulgação de notícias sobre a UNIPAMPA na página inicial do SiSU, o número de inscritos nos cursos da instituição deu um salto.
       Muitos estudantes da fronteira-oeste ficaram indignados com a concorrência vinda de fora. Em comunidades do site de relacionamentos Orkut, surgiram debates acalorados quanto à injustiça dos candidatos de outros estados estarem tirando a oportunidade dos naturais da região. Contudo, há outro ponto de vista que não pode ser descartado. A ordem de classificação no sistema leva em conta, em primeiro lugar, a nota dos estudantes. Portanto, é justo que aqueles que tiveram maior pontuação, sejam dos pampas ou não, fiquem em melhor posição.
       Além disso, a chegada de universitários de outros estados aumenta a diversidade cultural e pode trazer consigo incentivos para o desenvolvimento da região. A construção de moradias deve acompanhar o crescimento da demanda, assim como a reforma da rede de transportes e a oferta de opções de lazer. Uma universidade ativa e que atue junte a comunidade pode trazer consideráveis avanços para a população. Naturalmente, a cooperação dos governos locais é indispensável.
       O SiSU inicia como uma boa oportunidade para os que, com esforço e dedicação, buscam ingressar no Ensino Superior. De uma forma ou de outra, com ou sem “forasteiros”, a fronteira-oeste sai ganhando.

Um comentário:

  1. Publicado dia 06.02.2010, no jornal Tribuna Popular.

    ResponderExcluir

Tecnologia do Blogger.