Coluna-Ponto-de-Vista-2

Caráter do Gaúcho

Por Délio de Assis Brasil

A generalidade dos testemunhas contemporâneos coincidem em afirmar que o gaúcho pampeano era altivo e trabalhador a sua maneira. O peão da estância foi não só um hábil e consumado ginete, como também trabalhou na formação dos estabelecimentos do campo, os quais foram se multiplicando em toda extensão do pampa, até construir a base de riqueza. Domou os potros e os transformou em úteis instrumentos de trabalho. Parou os rodeios e apartou os animais destinado aos saladeiros e a matança para extração do couro. Segundo Bonifácio Del Carriel, autor do livro “El Gaúcho”: “as origens dos posteiros e capatazes se desenvolveu abaixo de chuva, vento e frio, e abaixo de sol queimante do verão. Foi amigo e companheiro do seu patrão, a quem defendeu mais de uma vez contra o ataque dos índios”.
Assim, foi o gaúcho peão de estância, que também tocava guitarra, freqüentava os bolichos, era fogoso com a china, mulher do gaúcho, jogou a tava e os naipes, correu carreiras, bailou em fandangos e gritou o sapucaí para transmitir entusiasmo nos combates, tal qual os índios charruas.
Nas viagens levavam uma manta de costilhar cru de vaca dos arreios que iam calejando com os raios de sol e o suor do cavalo.
Segundo Carril: “O gaúcho nômade amava sua liberdade, pialar um potro bravo e subjugá-lo, pialar um touro, abatê-lo e extrair o couro, aproveitando alguns cortes de carne para saciar a fome. Tinha muito que fazer e muitos serviços para prestar em campo aberto”.
Sabe-se que sem o gaúcho nômade da campanha, o vaqueano, o carreteiro e diligências, não haveriam estradas e meios de transporte no pampa, antes da instalação das vias férreas. Foi, sem dúvida, uma forma pastoril e primitiva de vida, a única possível nesse tempo. E quando necessitava alimenta-se em suas intermináveis travessias, laçava uma vaca que encontrava no caminho sem se importar se era alçada, reuna, ou propriedade de alguma estância e a sangrava e abatia para assar somente um pedaço de carne. Muitas vezes para extrair somente a língua, pois segundo o Rosa, antigo capataz do meu avô, José (Zeca) de Assis Brasil na Estância São José – Três Divizas – o gado atolado, em inanição, aproveitava-se tão somente a língua, pois a língua não emagrece. O Rosa também dizia, segundo me informou a Zilah Brasil Teixeira, minha prima, que: bem casado é quem bem “véve”.
Em outra ocasião estavam, meu pai, e meus tios, ainda moços na década de 30, contando proezas de campereadas, de laçar, de pealar, do gado baldoso que disparam coxilha abaixo. O Rosa permaneceu calado e pensativo. Em uma pausa da conversa ele exclamou: - É... E eu tava lá...
Este é o gaúcho, o qual temos orgulho de cultuar.

Um comentário:

  1. Que visão idealizada da personagem histórica do gaúcho! Deixou o realismo e a análise crítica inteiramente de fora!

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