Coluna-Ponto-de-Vista-2

A estância e o rancho

Por Délio de Assis Brasil


O gaúcho com o cavalo e a família necessitou de um rancho. Era construído com cobertura de capim santa-fé colhido nos banhados. Paredes de barro amassado com esterco para melhor aderência. Portas e janelas com couros. Em geral o interior tinha um só ambiente onde conviviam de forma promiscua, o gaúcho, a china os filhos, os cães, algumas galinhas e os viajantes que encontravam refúgio em suas penosas travessias pelo deserto pampeano desolado. De quando em quando aparecia um “payador” tocando guitarra e alegrando o ambiente. A china mexe no panelão de ferro, o puchero, a grelha junto ao fogo. Tomam mate e bebem água em um chifre. Comumente há um assado cavalo ao solo. A “payada” era um duelo verbal de canto e guitarra, que se prolongava durante horas e horas. Era uma forma de passar o tempo e espantar a solidão. Os gaúchos que moravam no campo batizavam eles mesmos os filhos. As estâncias foram se formando a partir de 1800, segundo o naturalista francês Alcide D’Orbigny. A casa principal constitui-se de um rancho onde viviam os proprietários, construída com paredes de barro. Nesta época o gaúcho já usava amplas bombachas no lugar do tradicional chiripá. Normalmente a estância tinha três habitações: na primeira vivia o gaúcho proprietário com a família, na segunda a cozinha onde se alojavam os peões, a terceira guardavam os couros, o sebo, os animais sacrificados e os cães. Havia sempre currais de pau a pique onde encerravam os cavalos, os animais vacuns de tirar leite. Era comum na província de Buenos Aires, depois de 1.820, por motivo de repetidas incursões de índios que atacavam as estâncias e roubavam o que podia, criou-se o costume de abrir um grande fosse ao redor das casas. Também, principalmente onde faltava madeira construíam fossas ao redor dos currais em substituição aos currais de pau a pique.
Nas primeiras décadas após 1.900 construíram grandes casas nas estâncias, alguns verdadeiros palácios, orgulho e motivo de satisfação dos estancieiros, pelo alto valor e o alto valor que alcançou a exploração do campo.
As estâncias foram verdadeiros postos avançados na heróica luta dos homens do campo para defenderem-se dos bandoleiros e índios. As atividades das estâncias constituía-se na doma de potros selvagens; marcar os animas a fogo; pedir e parar rodeio, quando necessário nos campos indivisos da época, antes do alambrado; laçar e abater o gado bovino, base da exploração das estâncias; esquilar os ovinos; colher os cereais plantados nas lavouras em lugares determinados. Haviam bretes feitos com estacas de pau a pique onde se permitia sair de um a um os animais. A medida que os vacuns saíam dos bretes eram separados dos que estavam marcados. Os gaúchos rebolavam lentamente seus laços, armados em forma de círculos antes do arremesso sobre os chifres dos animais. O gaúcho sujeitava então o cavalo e oferecia seu flanco ao touro para suportar o terrível choque do animal que pretendiam subjugar.
Estes alguns aspectos das atividades das estâncias, os quais, até não muitos anos passados, eram usados da mesma forma. O animal era laçado nas patas dianteiras até cair ao solo. Sem temer os coices os peões sentavam sobre o pescoço do animal e agarrado ao focinho o imobilizava. Era o momento do gaúcho com o ferro em brasa aplicar, geralmente na anca, a marca do proprietário do animal.
O leitor pode observar que este método brutal pouco difere nos dias atuais na maioria das propriedades.

Um comentário:

  1. Impressionante como o aturo não demonstra indignação ou crítica histórica ao fato de o homem do campo, já naquela época, vivia em extrema miséria (casa feito de esterco de vaca)
    Isso tb não mudou: o camponês ou o operário urbano vivem na miséria

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