Descaso público com a Educação
Da Capital ou Pampa
Por Carlos Ismael Moreira – Jornalista
O que era para ser uma conquista para aprimorar a qualidade do ensino em São Gabriel se transformou em um grande transtorno. No início da semana passada, a Escola Estadual de Ensino Médio XV de Novembro perdeu três professores, que passaram a integrar o quadro docente do Colégio Tiradentes. A Escola Estadual de Ensino Médio João Pedro Nunes (Poli), e o Instituto Estadual de Educação Menna Barreto também ficaram com um professor a menos cada um. A medida abriu um rombo na grade de disciplinas dos colégios e revoltou os mais de 500 estudantes que ficaram sem aula.
Como o assunto é educação, vou tentar explicar da forma mais didática possível o que ocorreu. O Colégio Tiradentes é mantido pela Secretaria de Segurança Pública (SPP/RS), e tem composição mista. As atividades extraclasse e administrativas ficam a cargo da Brigada Militar, enquanto a parte curricular pedagógica é de responsabilidade da Secretaria Estadual de Educação, que deve compor o quadro do colégio com professores nomeados (concursados) da rede.
Assim, os docentes foram informados de que havia vagas para lecionar no Colégio Tiradentes. Os interessados encaminharam seus currículos e a 19ª Coordenadoria Regional de Educação (19ª CRE), responsável pelas escolas da região, verificou as competências dos candidatos e encaminhou a transferência. Todo esse processo só é confirmado quando a 19ª CRE expede ao professor um documento chamado “FONO”, que comprova a troca de lotação, ou seja, que ele se desligou, total ou parcialmente, de uma escola para lecionar em outra. A coordenadoria também é responsável por informar oficialmente a escola da saída do docente e providenciar a reposição.
A diretora do XV de Novembro, professora Andréa Bonorino Cunha, afirma que o colégio foi pego totalmente de surpresa, e que não recebeu nenhum tipo de comunicação da 19ª CRE. De um dia para o outro os professores simplesmente deixaram de comparecer. Com isso, o XV de Novembro, que já estava com falta para as disciplinas de Artes, Ensino Religioso e Espanhol, ficou ainda sem professores para Física, Português e Inglês.
A coordenadora da 19ª CRE, Carmem Llaguno, diz que foi feito um aviso verbal, que a comunicação oficial já foi encaminhada para escola, e que se ainda não chegou é devido à distância. Mas o amigo leitor sabe que entre São Gabriel e Livramento são apenas duas horas de estrada, sendo que os professores estão lecionando no Colégio Tiradentes desde o dia 12 de abril. Llaguno informa ainda que as providências para reposição dos professores já foram tomadas, mas não sabe precisar uma data de quando isso deve ocorrer. Por enquanto, o XV de Novembro recebeu apenas um professor de Português, mas essa contratação já estava prevista mesmo antes da saída dos três docentes. Outro problema nessa troca, é que os professores receberam o FONO apenas no dia 22 de abril, com data retroativa ao dia que ingressaram no Tiradentes. Ou seja, a 19ª CRE permitiu a mudança de escola sem a devida documentação, de forma irregular.
O comandante do Colégio Tiradentes, major Edison Fagundes Lara, ressalta que a escola apenas recebeu os professores e que, de forma alguma, tinha a intenção de prejudicar outras instituições. O major demonstra preocupação de que os alunos do Tiradentes passem a sofrer algum tipo de discriminação ou represália, o que seria absolutamente descabido, pois os estudantes são meras vítimas dessa enorme confusão. Fagundes explica também que, como muitas outras escolas pelo estado, faltam cinco professores para completar o quadro do colégio.
Esse episódio é um exemplo perfeito do descaso com o ensino público gaúcho. Fora o fato de que a situação privilegia uma elite educacional, escolhida por meio de uma seleção paga. Qualquer pessoa que analisar um pouco mais de perto verá que o ocorrido é completamente absurdo. O XV de novembro, com 865 alunos, que há 62 anos cumpre seu papel de educar a comunidade gabrielense, perdeu três professores para o Colégio Tiradentes, recém inaugurado com apenas 90 estudantes. O pior é que esses docentes lecionavam para turmas do 3º ano do Ensino Médio do XV, enquanto todos os alunos do Tiradentes são do 1ª ano. Agora, aproximadamente 500 jovens que estão no momento de preparação para o vestibular e o ENEM, voltam para casa mais cedo porque não há quem ministre as disciplinas. Por semana, 97 horas/aula deixam de ocorrer.
Engana-se quem pensa que se trata de um caso isolado. Por todos os cantos do Estado brotam deficiências em escolas que precisam fazer mágica para oferecer o mínimo necessário aos estudantes. Tudo consequência de um (des)Governo displicente, que sucateia cada vez mais a educação gaúcha. As demoradas contratações emergenciais de professores tentam tapar o sol com a peneira, como desculpa de uma administração intransigente que só admite realizar concurso público depois que conseguir acabar com o plano de carreira dos educadores. Tomara que o povo não tenha memória curta e possa mudar essa triste realidade nas eleições que aí estão.
Perfeito o artigo. Analisou o problema da falta de prioriedade na educação com maestria. Na verdade, a prioridade é 'fachada'. Vende-se a ideia que existe uma preocupação em oferecer uma educação de qualidade, quando, na verdade, esta educação é oferecida a uma 'elite'.
ResponderExcluirEnquanto isso, os filhos dos tralhadores ficam à mercê do descaso.