Coluna-Ponto-de-Vista-2

Espaço do leitor

Pacificar ou apaziguar?
Pr. Cláudio Moreira

Ainda que a legislação eleitoral diga o contrário, a campanha eleitoral para o governo do Rio Grande do Sul já começou. Pouco a pouco, os pré-candidatos (assim chamados pela mídia para não ter problemas com a Justiça Eleitoral) começam a ensaiar os primeiros movimentos, e deixam, aqui e ali, as pistas iniciais de qual discurso pretendem apresentar à sociedade gaúcha. Chamou-me a atenção, especificamente, o fato de ter visto duas propagandas de partidos diferentes na televisão, onde dois políticos conhecidos, notórios pré-candidatos ao governo, apresentaram falas de teor quase idêntico. Em ambas as peças publicitárias, o mote era praticamente o mesmo: ‘Pacificar’ o Rio Grande.

Não é o caso de examinarmos aqui se os publicitários que trabalham nas campanhas tenham tido um surto de falta de imaginação. O fato é que, no uso aparentemente bem-intencionado desta expressão, esconde-se uma premissa nada ingênua: ‘O atual governo é muito conturbado, e os gaúchos precisam de paz’.
É certo que nos últimos anos, o Estado viveu um dos períodos mais críticos de sua história recente, com o ambiente político turvado por um debate político acirrado e agressivo, muito longe das tradições de civilidade de que a política gaúcha tanto se orgulhava. O nível de agressividade do embate entre oposição e situação saiu várias vezes dos trilhos, quase ao ponto da agressão física contra a pessoa da governadora.  Mas não deixa de ser interessante o enfoque escolhido por estes pré-candidatos ao abordar o fenômeno. Ao falar da necessidade de ‘Pacificar’ o Rio Grande, querem dizer ao eleitorado que seus nomes ou seus partidos reuniriam melhores condições de promover esta ‘pacificação’.
A leitura é clara. Não por acaso, as alianças destes pré-candidatos possuem elos de ligação com a oposição ao atual governo, e é a partir desta base que se apresentam como pessoas capazes de ‘construir um entendimento’, promover um ambiente de conciliação com as forças que se opuseram ao projeto em andamento no Estado. Para quem não conhece o processo político, parece uma intenção excelente. Uma questão, no entanto, se impõe: estas pré-candidaturas pretendem pacificar ou apaziguar o Rio Grande?
Antes que o leitor se confunda com estas palavras aparentemente parecidas, esclareço que quero tratar aqui de conceitos muito distantes um do outro. O apaziguador sempre busca um meio termo entre a verdade e a mentira, entre os que pautam suas ações pela lei e os que agem nas sombras. Na Fronteira, usa-se dizer que é aquele que ‘passa a mão por cima’ do problema, sem enfrentá-lo efetivamente. O verdadeiro pacificador, entretanto, persegue o objetivo da paz, pelos instrumentos corretos, mesmo que para isso tenha que se defrontar com desafios e dissabores.
O Rio Grande já viveu, bem recentemente, um tempo em que a lógica política era ditada pelos apaziguadores, quando o governo fazia todo tipo de contorcionismo político para agradar aliados e cortejar uma oposição que, no fundo, desprezava sua moderação como sinal de fraqueza. Não entenderam que, do outro lado, estavam forças que prezavam o seu projeto político acima de tudo, e que sempre buscariam destruir os adversários, fosse como oposição, fosse no poder.
Apaziguadores governam para o momento. Pacificadores governam para a História. Quando Hitler era apenas um governante meio exótico com um discurso violento, o então primeiro-ministro inglês Chamberlain concordou em dar alguns territórios europeus para aplacar a fúria de Hitler, achando que evitaria uma guerra. Hitler viu no gesto do premier britânico o sinal de que precisava para avançar ainda mais. Anos mais tarde, Winston Churchill, sucessor de Chamberlain, diria sobre ele: ‘escolheu a desonra para escapar da guerra, e colheu a guerra e a desonra’.
Poucos lembram de Chamberlain, até mesmo em seu país de origem. Mas o mundo todo reconhece em Churchill a coragem que se fez necessária para enfrentar Hitler e trazer a paz ao mundo.
Não sei se os pré-candidatos que hoje falam em ‘pacificação’ com o tipo de cultura política da oposição o fazem por ingenuidade ou por escolha. Sei apenas que os analistas políticos de hoje, em sua maioria, não são nada generosos com o atual governo. Mas a história certamente separará o joio do trigo e mostrará quem, de fato, teve a coragem necessária para perseguir o objetivo da recuperação econômica do Estado, sem a qual a paz social é apenas um belo mote de propaganda. Mesmo pagando elevados custos por isso. Quem hoje se apresenta para uma ‘pacificação’ que tem tudo para ser uma mera ‘apaziguada’, ou não entendeu nada ou entendeu tudo. O que é muito pior...

 Pastor Cláudio Moreira
Jornalista, Pastor Evangélico, Professor de Teologia, Secretário 
Executivo do PSDB de São Gabriel. 

5 comentários:

  1. Cláudio,
    Não posso concordar contigo que a oposição ao govrno Yeda tenha sido agressiva.
    Esta afirmação é uma falácia: o governo Yeda, sim, foi agressivo. Pq usou e abusou da BM como uma polícia militarizada, ideológica e repressora dos movimentos sociais, prática comum ao PSDB, como verificamos na recente guerra dos professores em SP.
    Todas as acusações e denúncias de desmandos e desvios de dinheiro público surgiram de dentro do governo, de pessoas ligadas ao governo Yeda e que denunciaram estes desmandos.
    A oposição fez o seu papel, denunciar e apurar.
    Entretanto, a velha política do 'é dando que se recebe' prevaleceu.
    O deputado que relatou a denúncia contra a governadora, absolvendo-a, após perder o cargo por infidelidade partidária, foi presenteado com um cargo de assessor especial da governadora.
    A velha tradição sul-riograndense de ética na política foi esquecida neste governo.

    PS.: Churchil não promoveu a paz na Europa, ele promoveu a guerra de extermínio contra a Alemanha.
    Direitos humanos era uma ideia distante para Churchil, que insistia com seus comandantes militares para usarem bombas incendiárias sobre a população civil da Alemanha, o que é considerado crime de guerra.

    ResponderExcluir
  2. Prezado José Ricardo:

    Agradeço sua leitura e comentário. Respeito sua opinião, mas receio que ela parta de premissas pouco sustentáveis, embora muito populares.
    Primeiro: me defina o que significa 'usar a BM como uma polícia militarizada'. Se não me engano, é exatamente isso que a BM é, não é mesmo? Quanto a ter sido obrigada a agir em diversos protestos aqui no Estado, creio que a expressão 'movimentos sociais' não deve ser entendida como um atestado de impunidade. Se qualquer cidadão comum está sujeito a prisão se desacatar autoridades e agir contra a lei, porque não eles?
    Quanto ás tais denúncias contra a governadora, tudo o que sustentava as acusações era uma gravação feita entre dois ex-tucanos com interesses contrariados, que ficam num bate-papo desfilando nomes e acusações. Ora, qual a seriedade disso?
    Falando nisso, cadê as imagens que o Pedro Ruas disse ter visto? Por que não mostrou as provas quando foi processado por Aod Cunha e Carlos Crusius, escondendo-se atrás do manto da imunidade parlamentar?

    A respeito do teu P.S: Toda guerra é de extermínio. Entretanto, Churchill teve a coragem necessária para não negociar com o mal, como Chamberlain e Dalladier fizeram antes dele.

    ResponderExcluir
  3. "O verdadeiro pacificador, entretanto, persegue o objetivo da paz, pelos instrumentos corretos, mesmo que para isso tenha que se defrontar com desafios e dissabores."

    Este fragmento já diz tudo: pacificar!

    ResponderExcluir
  4. Prezado Claudio,
    Vamos deixar a discussão sobre a guerra para depois, pq ela é extensa e mt interessante!

    Mas vamos adiante: qto à minha acusação ao uso da BM como uma polícia repressora dos movimentos sociais pelo governo Yeda, baseio-me na política por ela adotada de vigiar e controlar os movimentos sociais.
    Prática esta adotada pela polícia da Alemanha, nos anos 80 e 90, chamada de 'Estratégia Preventiva da Polícia em relação aos movimentos sociais'.
    Esta Estratégia contempla dois níveis de atuação:
    . rígido controle das atividades sociais, com identificação dos participantes de protestos (como se fosse crime protestar), grampos telefônicos, uso intensivo de balas de borracha, gás lacrimogênio, tropas de choque, prisão de manifestantes, etc.
    . proibição da existência legal dos movimentos sociais e mudança da legislação penal.

    Na Alemanha, o grupamento responsável por implantar esta política chamava-se Cavala.
    A Gov. Yeda adotou a prática da 'cavalização' da BM, através do GOE.
    O GOE tem elaborado dossiês onde ela investiga, inclusive, Deputados Estaduais, sem a autorização da Assembleia Legislativa.
    Veja bem, Claudio, a Constituição Federal determina a existência de duas polícias, sendo que incumbe a Polícia Civil a tarefa de investigação.
    Esta prática incentivada pela Governadora fere a CF
    Com base nos dossiês elaborados pelo GOE, o MP solicitou à Justiça gaúcha, que concedeu, a implantação de áreas chamadas de 'zonas especiais', onde está vedado o direito de reunião e manifestação, direitos consagrados pela CF. No RS, existem 4 zonas especiais, inclusive, uma delas é em SG. Nestas, a CF é rasgada por obra e graça da BM.

    Tu lembra do caso que envolveu o ex-comandante da BM onde este solicitava a um jornalista a publicação de uma matéria mentirosa sobre o MST, a fim de valorizá-lo perante a Governadora?
    Então, eu não estou tão errado no que afirmo
    Abraço, Claudio

    ResponderExcluir
  5. muito bom, bem escrito.
    otimo blog

    ResponderExcluir

Tecnologia do Blogger.