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Voto obrigatório divide o eleitorado do país, aponta pesquisa

O voto obrigatório divide o eleitorado brasileiro. Segundo pesquisa Datafolha, 48% dos entrevistados são favoráveis e 48% são contrários à obrigatoriedade. A consulta foi realizada entre os dias 20 e 21 de maio. 
O levantamento anterior, de dezembro de 2008, registrou recorde de 53% de eleitores favoráveis à obrigatoriedade. 
A obrigação atinge os brasileiros alfabetizados que têm entre 18 e 70 anos. Para os analfabetos, os maiores de 70 e os que têm entre 16 e 18 anos, o voto é facultativo. 
Apenas 30 países mantêm o voto obrigatório nas eleições nacionais.

Um comentário:

  1. A elite brasileira vive um inconformismo expresso na pergunta que se tornou clássica: porque o voto da cozinheira deve valer o mesmo que o meu?
    Este é o pano de fundo da pesquisa sob o título “Voto obrigatório divide o país”.
    A divisão da pesquisa não é novidade. A idéia que se vende da política é a idéia que a elite, via mídia, espalha: ”a política não tem nada a ver com as nossas vidas e os políticos não se importam com o povo”. A política que estas elites dominam e os políticos que servem a estas elites.
    O ponto importante que esta questão reflete, porém, é outro: a divisão entre os que entendem que a sociedade como uma coletividade de indivíduos essencialmente iguais, malgrado as diferenças reais que tenham suas vidas, ou os que a querem como um simples arranjo de indivíduos que devam estabelecer ou manter relações de dominação social, econômicas e culturais sobre outros indivíduos sem poder de fazer o mesmo em relação a eles.
    O fim da obrigatoriedade do voto significaria uma sobrerepresentação das camadas mais ricas da população e uma subrepresentação das mais pobres.
    O voto obrigatório foi o início de uma democracia de massas no Brasil, onde só cerca de 10% dos brasileiros estavam inscritos como eleitores durante a República Velha, contra os quase 70% de hoje. Foi uma das principais motivações – e implantado em 1932 – da Revolução de 30. Foi uma das conquistas da “Era Vargas” que o governo FHC-Serra não conseguiu – e teve muita vontade disso – destruir.
    O voto facultativo, ao contrário do que os liberais do início do século 20 e os neoliberais do século 21 diziam e dizem, é um retrocesso na qualidade da eleição. Não apenas porque, objetivamente, vai distorcer a realidade da representação política e estabelecer, na prática, “valores” diferentes para os votos como, também, vai favorecer a corrupção eleitoral e o “curralismo” praticado pelas oligarquias do interior.
    Esta questão nos coloca, cruamente, o elitismo que se traveste em uma falsa “modernidade” e “liberdade”. Os pobres devem ser excluídos de tudo, das cidades, dos morros, da paisagem, das urnas. Bom mesmo é que fossem habitar os subterrâneos, como imaginou Aldous Huxley em seu “Admirável Mundo Novo”.
    O direito ao voto é como o direito à liberdade. É irrenunciável, e cabe à sociedade evitar que se encontrem maneiras de aboli-lo na prática, mesmo que o indivíduo, por uma série de circunstâncias, aceite e pareça mesmo querer esta abolição. É como a escravidão: mesmo de “livre e espontânea vontade” uma pessoa em situação miserável não tem o direito de se vender como escravo, porque os valores de nossa coletividade não aceitam que, por qualquer circunstância, um ser humano seja reduzido a esta condição degradante.
    As nossas elites, perversas, controlam os meios de comunicação e fazem o que podem para apresentar como desprezível o exercício de cidadania da política.
    Deve ser duro para a elite admitir que ali estão seres humanos iguais a eles em direitos.

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