Coluna-Ponto-de-Vista-2

Toca um Vivaldi, aí

Por: Luciana Carvalho

Um vídeo que “bombou” na internet essa semana foi o Gaiola das Cabeçudas, uma peça de humor da MTV em que o excelente Marcelo Adnet satiriza a pobreza das rimas e o excesso de erotismo barato das letras das músicas do ritmo funk. Com sacadas como “toca um Vivaldi aí” e “Segue sua nau”, faz rir muito! Mas, é de fazer pensar também. Faz pensar tanto na péssima qualidade da maioria das músicas que fazem sucesso hoje, quanto na falta de conteúdo de quem as curte.
Não me tomem por falsa moralista ou tia nostálgica, que não estou aqui querendo que todo mundo banque o intelectual e só ouça música clássica (seria uma tremenda hipocrisia da minha parte). Afinal, lixo também é cultura (no sentido antropológico do termo) e gosto, definitivamente, não se discute. Agora, meu interlocutor há de concordar, não se faz mais poetas como antigamente... E olha que não estou nem falando de um Vinícius de Moraes. Para não irmos tão longe, basta lembrar a profundidade das letras de Cazuza ou Renato Russo, que ainda emocionam, mesmo décadas depois de terem sido lançadas.
Ok, estou sendo nostálgica, mas só um pouquinho. Só não me acusem de estar defendendo certo elitismo da música, indo contra o gosto das classes populares. Até porque sabemos que dançar ao som das cachorras, popozudas e manos não é exclusividade de pobre, não. Tem muita patricinha e playboy que adora um baile funk.
A questão nem é o ritmo, que aí é questão de gosto mesmo. Brincar com a letra e provocar o riso, a catarse, se fosse a proposta do tipo de música que Adnet está satirizando, seria até saudável. Mas será que nossos jovens merecem obras tão depreciativas quanto as que andam embalando a noite nos últimos anos? O funk das Cabeçudas brinca com alguns nomes obrigatórios no repertório de um estudante médio. Não precisa ser nerd para saber quem inventou a lâmpada ou que a mulher é XX na Biologia, ao menos todo mundo que já estudou até a quarta série do ensino fundamental deveria saber. Se acharem que a letra da Gaiola das cabeçudas é intelectual demais, sinal de que está na hora de começar a ler um livro.

6 comentários:

  1. Concordo plenamente. Não é falso moralismo, mas há muitos anos a mídia vem deturpando a MPB.Rótulos como "pagode universitário", o pseudo funk e as celebridades cantoras (aliás essas são uma ofensa ao ser humano mulher - melancia, morango, etc). Existem bons compositores, mas o sistema não os quer. Arlindo Cruz não é bonito nem fala errado para parecer engraçado, Délcio Luiz não é ex-BBB, Monarco, Velha Guarda da Portela (só para ficar no samba, o mais popular dos estilos) e tantos outros talentos estão esquecidos. A mídia nacional forma celebridades e nossos jovens compram essa ideia. Só cultura, só ler livro é chato, mas a mediocridade cultural do nosso País é muito mais chata e desce cada vez mais a ladeira e o resultado disso é a fábrica de celebridades e estilos musicais inventados hoje em dia que nos enojam. Letras pobres, melodias manjadas, esta é a música brasileira. Se o homem não for engraçado e a mulher não tiver atributos físicos pra-lá-de-avantajados, não há sucesso.E nós seguimos rebolando até o chão, subindo com a mão na cintura, dando tapa na cara das saradas e popozudas. Mas tem coisa pior, vem aí o horário eleitoral gratuíto.
    Marcel

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  2. Valeu, Marcel. E concordo, mas indecente é muita coisa que rola em nossa política...

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  3. Concordo em gênero, número e grau, Luciana! Parabéns!

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  4. alguem sabe qual é a musica do vivaldi que toca qualdo ele fala " toca um vivaldi ai"?

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  5. A música é "Tempestade". Espero ter ajudado

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