Inquietudes...com Luciana Carvalho
Presença digital e esfera pública
Começo pedindo desculpas ao Anderson e aos leitores pelo atraso no envio da postagem. Um dos motivos do atraso foi uma atividade que desenvolvi ontem com estudantes de Graduação no Curso de Comunicação da UFSM, onde faço Mestrado. Fui convidada para falar com os integrantes do Grupo PET (Programa de Educação Tutorial) sobre o impacto das redes sociais da internet e dos blogs nas eleições deste ano. O artigo que trabalhamos é de autoria do Professor Sergio Amadeu, da Universidade do ABC (SP), sobre o que ele denomina esfera pública interconectada. O termo, na verdade, é de um pesquisador chamado Yochai Benkler. O argumento é de que o uso sócio-político dessas ferramentas da internet estaria transformando e alargando a esfera pública.
As teorias de Habermas sobre a esfera pública sofreram muitas críticas ao longo dos anos, principalmente pelo seu tom pouco otimista em relação ao papel da imprensa na democracia e a participação de movimentos sociais no agendamento das decisões políticas. O próprio autor reviu alguns pontos e atualizou a ideia de esfera pública, levando, mais atualmente, em conta o papel positivo dos meios de comunicação no processo democrático através da promoção de discussões sobre temas polêmicos, no entanto não chega a levar em conta possíveis transformações operadas pelas redes digitais.
O texto de Sergio Amadeu que trabalhamos no encontro do Grupo do PET, nesta terça-feira, aponta uma série de argumentos pró e contra a possibilidade de se falar em uma nova esfera pública que estaria emergindo de alguns usos da internet. Se a internet é criticada por isolar as pessoas e transformar as discussões em uma espécie de Torre de Babel em que ninguém se entende, e onde as diferenças de opinião não chegariam a promover discussões, existem exemplos e números da utilização das redes sociais e da blogosfera que mostram o contrário. Segundo Amadeu, nunca se conversou tanto. Basta pesquisar pelos termos “eleições iranianas”, “fora sarney”, “honduras”, e por aí vai.
Para falarmos apenas em termos de Brasil, basta ver o quanto a campanha eleitoral está mobilizando a participação direta de eleitores em discussões com os candidatos, encontros que saem do virtual e se materializam na vida física. Atualmente, um em cada três brasileiros está conectado à internet, um número de 70 milhões de pessoas utilizando em média 23 horas mensais na rede. Dos internautas brasileiros, 80% fazem parte das chamadas redes sociais. Orkut é disparado o primeiro, seguido do Facebook, que está crescendo no gosto dos brasileiros este ano. Números recentes mostram que 36% dos internautas brasileiros sobem vídeos e imagens no youtube todos os dias, e o Brasil é o quarto país onde mais se lê blogs. São 2,6 milhões de blogueiros que atualizam suas páginas diariamente. Sem falar no Twitter, que hoje conta com 120 milhões de perfis ativos no mundo todo e vem conquistando os brasileiros – 20% deles estão no microblog.
Se essa presença digital em ambientes de conversação promove uma transformação da esfera pública, em termos de desintermediação na política, é discutível. O que parece mesmo ser fato é que a comunicação, após o advento das redes digitais, já não é mais a mesma dos tempos em que a mídia de massa imperava sozinha, com sua forma de comunicação de um para todos e interatividade reduzida. Para ver um vídeo com os dados apresentados sobre a internet no Brasil, clique aqui. Minha apresentação em powerpoint, aqui.
Sou entusiásta e cética em relação a revolução das mídias sociais, porque está baseada fundamentalmente na revolução das pessoas. A internet será o que fizermos dela: é uma rede de pessoas para pessoas, mediada por computador. Temos a chance de tomarmos o poder nas nossas mãos novamente. Existem inúmeros casos na web confirmando isso. Veja a campanha Ficha Limpa no Twitter, 2 milhões de votos online. Precisamos aprender a usar de uma nova forma essas ferramentas. Hoje todos temos a capacidade de ser Eu-mídia. Veja mais aqui:
ResponderExcluirhttp://blog.zopemidia.com.br/o-poder-do-eu-midia-com/
Muito oportuno o tema abordado. O alcançe da mídia em inúmeros formatos só não é maior, porque fatores sócio-econômico-culturais ainda limitam o acesso da internet a muita gente.O positivo, em se falando de mídia de massa(tv aberta), é que o jornalismo investigativo contribui de maneira significativa na hora de mostrar quem é quem na política brasileira. Não fosse isso, nunca saberíamos da "farra" dos vereadores de Triunfo,RS,com o dinheiro do povo, sem falar do "dinheiro na cueca", "propinas" e assemelhados. Atualmente, a política mais verdadeira é a "estamos de olho!" do jornalismo brasileiro que, excetuando-se alguns órgãos tendenciosos, está de parabéns.
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