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A Liberdade: Lições do Nobel e do Chile

            Como quase todo mundo que conheço, acompanhei com profunda atenção e ansiedade, nos noticiários noturnos, o resgate dos 33 mineiros de uma cova no Chile. Sou bastante contido em minhas emoções, mas não pude deixar de ficar comovido com a demonstração de civismo que uniu todo um país no resgate de compatriotas. Não havia como não sentir uma pontinha de inveja dos chilenos ao ver o presidente do país, Sebastián Piñera, o tempo todo ao lado das equipes de engenheiros que trabalharam incansavelmente durante meses nas operações de resgate. Para quem tem ainda viva na memória a lembrança do mau exemplo do nosso Presidente da República, que durante o desastre da TAM que enlutou centenas de famílias só queria saber de salvar a própria reputação, a comparação é inevitável. Dá pra compreender perfeitamente porque os chilenos ostentavam com tanto orgulho, durante toda a operação, a bandeira de seu país, e entoaram com tanto entusiasmo o hino de sua pátria. Uma nação que sofreu longos anos de regime de exceção, no esforço de salvar 33 mineiros de uma cova escura, deu uma demonstração prática do quanto se deve lutar para proteger a Liberdade.

            Foi em nome da Liberdade que um país inteiro se uniu para soltar seus compatriotas presos em um buraco. E, felizmente, uma onda benfazeja de amor à Liberdade varre o mundo, por conta da divulgação dos vencedores do prêmio Nobel, que reconheceu, na Literatura, o engajamento do escritor peruano Mário Vargas Llosa em favor da democracia, contra tiranetes demagogos, e no Nobel da Paz, o chinês Liu Xiabao, um reconhecimento tardio por seu papel nas históricas manifestações pela democracia na Praça da Paz Celestial (Quem não lembra da cena do garoto, cujo nome não se sabe até hoje, enfrentando de peito aberto um tanque de guerra chinês?). Vargas Llosa concorreu à presidência do Peru, e foi derrotado por Alberto Fujimori, um demagogo que deu um golpe que lhe garantiu dez anos no poder, semeando corrupção e despotismo. Já Liu Xiabao permanece até hoje preso pelo regime chinês, sem nenhuma espécie de comunicação externa.
            Infelizmente, o amor à Liberdade ainda não é um consenso amadurecido na sociedade brasileira, ainda tão suscetível à sedução por líderes carismáticos e demagogos. Espertalhões que amam falar em “democracia direta”, que na sua linguagem distorcida significa um país sem congresso e sem oposição, onde o chefe se relaciona diretamente com as “massas”. Embora não seja hoje viável um golpe destas proporções no Brasil – e isso graças à obra de um democrata exemplar chamado Fernando Henrique Cardoso – ainda é possível transformar as instituições democráticas em meros fantoches da vontade do governante de plantão, e para isso certas forças do espectro político nacional trabalham diuturnamente.
            Por vias transversas, o Chile e a Noruega, terra do Nobel, nos dão lições importantes de amor à Liberdade. Nas tiranias, qualquer um é livre para ser a favor. A democracia existe para que tenhamos a liberdade de ser contra, e é por isto que devemos sempre lutar pela sua consolidação. Que estas belíssimas lições de liberdade possam ser assimiladas por todos os brasileiros.

TARSO FRANCISCO PIRES TEIXEIRA
Presidente do Sindicato Rural de São Gabriel
Vice Presidente da Farsul 

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