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Espaço do leitor


As lições de Assis Brasil aos Ministros
O cenário político brasileiro, definitivamente, é de um vazio desolador. Em menos de seis meses, o novo (nem tanto) governo federal teve cinco quedas de ministros de Estado, e o Turismo está ali, ali. A recente exoneração estrepitosa do ministro da Agricultura, que se despediu do cargo em tom rancoroso, como se estivesse se despedindo da própria vida, me deixou convicto de que a crise do sistema político brasileiro é muito mais profunda do que parece. Não é apenas uma crise ética, ou de valores. O Brasil está atravessando o momento mais dramático de uma já prolongada crise de idéias.
Impossível não chegar a esta conclusão contrastando a trajetória do ministro da Agricultura que ora deixa o cargo, com outro seu ilustre antecessor, que exerceu o mesmo cargo no ano de 1930. Falo de Joaquim Francisco de Assis Brasil, que não por acaso empresta seu nome ao parque de exposições de sua terra natal, São Gabriel, e também ao famoso parque de Esteio, que sedia a maior feira agropecuária da América Latina. Do Assis Brasil diplomata, político, abolicionista, democrata e pensador, podemos falar sem dúvida, o que ele próprio disse, décadas atrás, sobre o grande rival político do seu começo de vida pública, Gaspar Silveira Martins: “seria uma celebridade universal, se falasse em qualquer língua medianamente conhecida”. Há muitas pessoas que se consideram eruditas porque sabem citar de cor frases de Winston Churchill, John Kennedy ou Margareth Tatcher, inegáveis estadistas, mas desconhecem por completo a profundidade do pensamento de gigantes brasileiros como Rui Barbosa, Joaquim Nabuco e Assis Brasil. Nos tempos do Império e da República Velha, os congressistas se batiam por idéias, não por emendas parlamentares ou cargos de governo
Assis Brasil, pouca gente sabe, foi ministro da Agricultura também por um curto período, e também deixou o cargo no meio de um escândalo. Mas a natureza do incidente foi completamente diferente. Assis Brasil fez parte da Revolução de 1930, e a convite de Getúlio Vargas, tornou-se ministro do Governo Provisório. Entretanto, democrata convicto que era, deixou o cargo após o empastelamento do jornal “Diário Carioca”, vandalizado por partidários do novo regime. Que diferença de um ministro que deixa o cargo por andar de jatinho com empresas que tem negócios com o ministério, ou fazer vistas grossas a licitações mais que suspeitas, e sair enfurecido, dizendo-se vítima de perseguição. Na verdade, sua fúria é porque, ao voltar para a planície, perderá a relevância. Muito ao contrário do que ocorreu com Assis Brasil, que nas palavras de Paulo Brossard, “por longos anos, teve marcante presença na vida regional e nacional, mesmo quando desinvestido de toda autoridade oficial”.
Certamente, o novo ministro visitará a Expointer, e percorrerá os estandes com a alta genética da agricultura (Assis Brasil detestava o termo ‘agropecuária’, preferindo sempre o termo ‘agricultura’ para todas as cadeias produtivas). Tudo o que seus olhos verão, é fruto da corajosa idéia de um pioneiro que semeou sindicatos e associações rurais por todo o Estado, incentivando sempre o aprimoramento tecnológico e cultural dos produtores. Se quiser deixar um legado menos sombrio que o de seu último antecessor, sugiro que leia bastante as obras de Assis Brasil, e que ao decidir os rumos do setor, pense não apenas na próxima eleição, mas na próxima geração.

Tarso Francisco Pires Teixeira
Presidente do Sindicato Rural de São Gabriel
Vice Presidente da Farsul

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