Lupi pede desculpa e diz amar Dilma
![]() |
Lupi esteve em São Gabriel em 7 de maio de 2010 durante lançamento oficial do Projovem |
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, reafirmou ontem, na Câmara dos Deputados, que não há corrupção em sua pasta. Segundo ele, "se alguém fez algo" no Ministério do Trabalho, foi por conta própria e deve pagar por isso. Em reportagem da revista Veja, funcionários e ex-funcionários do ministério são acusados de cobrar propinas de organizações não governamentais em situação irregular, em benefício do PDT (partido do qual o ministro é presidente licenciado).
Carlos Lupi participa de audiência pública na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara
Segundo Lupi, que prestou depoimento na Comissão de Controle e Finanças da Câmara, as denúncias são vazias e mostram que não houve propina, pois as empresas denunciantes não receberam dinheiro do ministério. "Apareça a prova, apresente-se quem levou dinheiro. Eu não compactuo com a corrupção, quero corruptor e corrupto na cadeia. Quem não tem o que temer desafia mesmo", afirmou.
Durante a audiência na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle, o ministro voltou a pedir desculpas à presidenta Dilma Rousseff por ter dito que só sairia "à bala" do ministério. "Eu gosto de fazer o debate, às vezes exagero. Peço desculpas públicas. Presidente Dilma, me desculpe se fui ofensivo, eu te amo", disse.
Lupi defendeu seu ex-chefe de gabinete Marcelo Panella, seu amigo pessoal, que se afastou do ministério em agosto. Ele é acusado de cobrar de 5% a 15% dos valores de contratos com ONGs para restabelecer repasses suspensos por irregularidades. Panella é tesoureiro do PDT.
"Tenho absoluta e total confiança em Marcelo Panella. Coloco a minha função e vida à disposição de quem quer investigar o Marcelo", disse Lupi, em resposta a deputados da oposição que questionaram a integridade do ex-assessor.
O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) criticou a vinda do ministro à Câmara antes de os parlamentares ouvirem os assessores que são alvos de denúncias. "Gostaria de convidar o ministro em outra oportunidade, depois de ouvir todos os denunciados", disse.
Antecipação
O ministro disse que, de agora em diante, vai se antecipar à imprensa e publicar na internet todas as investigações que forem feitas pela sua Pasta, para evitar que se repitam denúncias como as que ocorrem hoje contra seu ministério.
"O que estão apresentando hoje é antigo e fomos nós que apontamos. Isso é café requentado. Agora vou botar tudo no portal do ministério, porque não posso mais viver nessa angústia.", afirmou.
Convênios
O ministro também rebateu criticas de parlamentares sobre a suposta demora da Pasta em analisar prestações de contas de contratos. O Tribunal de Contas da União (TCU) solicitou ao ministério que faça um cronograma para reduzir o número de contratos sem registro no Sistema Integrado de Administração Financeira do governo federal (Siafi).
O deputado Fernando Francischini (PSDB-PR) questionou o ministro sobre o porquê da demora na prestação de contas de empresas contratados pelo ministério desde 2003. Dos R$ 697 milhões em convênios, R$ 380 milhões estariam nessa situação. "Aí está o ralo, 51% dos convênios e 54% dos recursos sem apresentação de contas", disse.
"O Ministério do Trabalho é o que tem o menor número de contratos com prestação de contas a apresentar", respondeu Lupi. De acordo com ele, de 2003 a 2007 a Pasta firmou 491 convênios com organizações não governamentais. Desse total, 97 ainda estão em execução, seis apresentam pendências, dez estão em análise, quatro prestações de contas foram rejeitadas e oito precisam apresentar documentos adicionais.
O ministro argumentou ainda que as prestações de contas são feitas em etapas e isso atrasa a entrega de informações. Ele lembrou que todos os procedimentos são acompanhados pelo ministério e pela Controladoria-Geral da União (CGU).
Ministério vaza informação da imprensa
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, está usando um blog do ministério para vazar as reportagens que estão em apuração pelos órgãos de imprensa. Em nota, a assessoria de imprensa do ministério diz que, a pedido de Lupi, todas as demandas encaminhadas pelos jornalistas à assessoria de comunicação da pasta serão publicadas com respostas no blog http://blog.mte.gov.br/. O blog, porém, publica respostas a perguntas de apuração que ainda está em andamento.
Procurada pelo Grupo Estado, a assessoria do ministério informou que a ordem de Lupi é publicar os questionamentos e as respostas no mesmo dia em que as demandas dos repórteres são enviadas ao ministério, mesmo que a reportagem não seja publicada pelo órgão de imprensa.
Em nota, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) repudiou a postura do ministério. "Ao agir dessa forma, o Ministério do Trabalho inibe os meios de comunicação e os jornalistas que precisam verificar com o governo informações de eventuais reportagens que serão veiculadas", disse a entidade.
A prática do Ministério do Trabalho é semelhante à adotada pela Petrobras em 2009. Na época, em meio a denúncias de desvios de recursos, a Petrobras criou um blog para publicar as respostas às demandas da imprensa. Inicialmente, o blog chegou a divulgar informações sobre apurações em andamento.
Presidenta evita repercutir declarações
A presidenta Dilma Rousseff não quis comentar as recentes declarações do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e citou uma frase de um político gaúcho para desconversar sobre o assunto: "Passado é simplesmente passado". Ela foi abordada por jornalistas ao final da cerimônia de sanção da lei que amplia as faixas do Simples Nacional e do Empreendedor Individual, realizada ontem no Palácio do Planalto, em Brasília.
Dilma também se negou a falar sobre aumento de taxa de juros e sobre a previsão do crescimento para este ano ou ano que vem. "Sabe, querida, eu acho que nessa questão dos juros, quanto menos se falar, melhor. Quero que o Brasil preserve toda a estabilidade possível, não sou a pessoa que deve responder sobre juros, quem responde sobre juros no meu governo é o ministro do Banco Central", disse. Em relação ao PIB deste ano, se seria menor do que 4%, Dilma disse: "Eu não vou dizer e cravar um número, porque se tiver qualquer diferença, vocês irão cobrar". E emendou ao responder pergunta sobre se 2012 será melhor que 2011: "2012 vai ser melhor, e eu vou fazer o possível e o impossível para isso".
A presidenta Dilma afirmou também que o crescimento deste ano será menos afetado por esta atual crise internacional do que foi em 2009, logo depois da crise financeira iniciada em 2008, apesar das medidas tomadas à época que levaram a se chegar a menos 0,9% de crescimento.
Disk-notícia:(55)9 9664.2581