Coluna-Ponto-de-Vista-2

Espaço do leitor


Deixem Deus em paz!

“... O qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus ou é objeto de culto”
 (2ª Tessalonicenses, 2;4)

Em 1924, o brilhante ensaísta e filósofo britânico Gilbert Keith Chesterton, anglicano convertido ao catolicismo, escreveu pesada crítica a uma peça teatral de George Bernard Shaw, que na época recebia aplausos entusiasmados da elite intelectual inglesa simplesmente por atacar – com sagaz inteligência – a fé cristã. No texto que escreveu, Chesterton faz uma afirmação que merece ser transcrita integralmente: “A perseguição da ciência pela religião é algo de que se fala muito, e muito mais do que é historicamente correto. De qualquer modo, é algo que felizmente já passou. A perseguição contra a religião, entretanto, pode ter apenas começado, e já está em ação em muitos casos de pedantismo e crueldade”.

Imagino como Chesterton reagiria se estivesse hoje entre nós para opinar a respeito da recente decisão do Pleno do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, que determinou a retirada dos crucifixos de todos os tribunais gaúchos, atendendo a um pleito da Associação Brasileira de Lésbicas. Se a perseguição da ciência contra a religião era ainda uma realidade incipiente em seus dias, hoje a militância anticristã ergue as armas do laicismo na cultura, na mídia e também na justiça.
A alegação bizarra de que o crucifixo, como símbolo do catolicismo, nada tem de fazer em um tribunal por ser o braço jurídico de um Estado laico, é de saída falsa. Primeiramente, porque o crucifixo não é um símbolo apenas católico, mas é utilizado também por protestantes históricos, como os anglicanos. A cruz vazia – sem o Senhor morto – é ainda mais difundida, usada por evangélicos clássicos, pentecostais e outros. Se na Igreja, a cruz é o símbolo máximo de uma religião, numa repartição pública ela apenas encarna um conjunto de valores que fazem parte da identidade do povo brasileiro, quer as minorias raivosas gostem ou não. A presença da cruz em um tribunal, num plenário legislativo ou no gabinete de um prefeito, em nada ameaça a isenção das decisões ali tomadas. Expurgá-las de lá, do ponto de vista prático, é apenas uma manifestação do mais rombudo obscurantismo, acolhendo a ira de certos grupos contra os valores da maioria da sociedade.
Outra pérola do gênero é uma recente ação de um procurador do Ministério Público Federal em São Paulo, que ajuizou o Banco Central por imprimir nas cédulas de Real a expressão “Deus seja louvado”. Se isso prosperasse, Deus acabaria sendo menos eterno na realidade brasileira do que Sarney, o presidente que começou a colocar esta frase nas notas do Cruzado. A se seguir nesta toada, a maioria das cidades brasileiras, batizadas com nomes de santos, terá que trocá-los por outros. Em nome de que interesses?
Sim, o Estado brasileiro é laico, e isso significa apenas que tem de servir com igualdade a todos os cidadãos, independente de seu credo religioso. Ser laico não significa ser anti-religioso. Por isso, peço aos laicistas de plantão: deixem Deus em paz, e parem de tentar expulsar da esfera pública os valores ligados à fé. Se alguém é mesmo capaz de ficar ofendido diante de uma cruz, será que o problema com a cruz ou com quem a vê?

Pr. Cláudio Moreira
Jornalista e Teólogo, Pastor da 5ª Igreja do Evangelho Quadrangular de São Gabriel - RS

3 comentários:

  1. Um texto baseado completamente na emoção e 0% de razão. O pastor não apresenta nenhum argumento racional a favor de sua idéia. Ele apenas enfia idéias goela a baixo assim como a grande maioria dos religiosos, crentes, enfim...Disse o pastor "Se na Igreja, a cruz é o símbolo máximo de uma religião, numa repartição pública ela apenas encarna um conjunto de valores que fazem parte da identidade do povo brasileiro, quer as minorias raivosas gostem ou não".isso fere o que podemos chamar de estado laico que como o pastor mesmo escreveu significa apenas que tem de servir com igualdade a todos os cidadãos, independente de seu credo religioso. Se fosse o crucifixo apenas um conjunto de valores que fazem parte da identidade brasileira, deveríamos então, colocar símbolos de umbanda, fotos do Chico Xavier e outros símbolos em um pais com tanta diversidade de religiões.Será que apenas a cruz com um cadáver ensangüentado é parte da identidade do povo brasileiro?Enfim ,está no artigo 9 da constituição a proibição das relações entre poderes constituídos e religiões Acho que o Pastor, jornalista e teólogo deveria se informar mais sobre o que é realmente estado laico e compreender que as repartições publicas devem ser espaços neutros antes de sair escrevendo bobagens na internet .

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    1. Prezada Cris Pacheco, talvez seja você quem não compreenda os verdadeiros fundamentos de um Estado laico, que é apenas o caráter de um Estado que não tem uma religião oficial e não privilegia relações com religião alguma. O espírito das mobilizações pretensamente secularistas para varrer crucifixos dos tribunais, como se fossem insígnias do mal, é uma motivação não apenas laica, mas LAICISTA, ou seja, de um Estado que rejeita a religião como inimiga. Querer colocar a influência de outros símbolos religiosos no mesmo patamar da cruz na formação sociológica do brasileiro, não é argumento "racional", é vigarice intelectual pura e simples.

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  2. O texto apresenta inúmeras contradições, começando por esse trecho: "Sim, o Estado brasileiro é laico, e isso significa apenas que tem de servir com igualdade a todos os cidadãos, independente de seu credo religioso." Se os direitos são iguais, por que oprimir e ignorar valores que você considera de uma “minoria não-cristã”, em contrapartida aos “valores da maioria da sociedade”? Daqui a pouco vamos inserir nas grades curriculares de Ciências o Criacionismo, em causa da maior parte da população brasileira ser cristã? Ignorando todo o desenvolvimento científico adquirido. Se o Estado é laico, os crucifixos devem ser retirados.


    Leandro Nascimento Lemos
    Membro da Liga Humanista Secular do Brasil

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