Coluna-Ponto-de-Vista-2

Falando em música

Cibele Ambrozzi Corrêa
Colunista do blog

Músicos de rua

Eu sei, eu sei pessoal, a edição da minha coluna está atrasada novamente, porém, posso afirmar que foi por uma boa causa, pois tive de fazer uma viagem que praticamente será tema da edição de hoje. 
Estava eu e um grupo de colegas caminhando apressadamente pela Calle Florida, uma Rua de Buenos Aires onde todos os dias há um emaranhado de pessoas de todos os estilos, turistas e moradores da cidade. Devido ao tempo reduzido que eu tinha e a pressa que nos tomava, as pernas já estavam no automático, andar, andar, andar, mas os ouvidos não, os olhos também não, passando em uma esquina fui obrigada a parar um pouco e desfrutar de uma belíssima música tocada por músicos de uma banda chamada Pollera Pantalon, que aparentavam estar ali por prazer e não por necessidade e isso só é percebido, ao ver um case de um violão estendido a frente deles com algumas moedas. Tornavam aquela tão movimentada rua em um espetáculo musical, quase um concerto de Jazz, pois mesmo entre as conversas, barulhos de carros e ambulantes, estavam lá concentrados, cada um com seu instrumento. Mais adiante ouço solos que lembram Mark Knopfler, em Brothers in Arms e avisto um solitário guitarrista sentado em seu amplificador, deslizando os dedos no braço de sua guitarra, como se estivesse em alfa e apesar da correria, é praticamente impossível passarem despercebidos aqueles acordes. Mas minha maior surpresa ainda estava por vir, na esquina da Florida com Corrientes, um cadeirante com características indígenas, que apesar de sua deficiência e todas as dificuldades impostas por sua aparente limitação, numa gaita de boca, posicionada de forma que ele conseguisse alcançá-la, toca lindas notas de uma musica clássica de John Lennon, Imagine, apesar de ser uma bela canção, aquelas notas soaram uma profunda tristeza para mim ao sentir e enxergar uma diferença social tão grande.O que eles têm em comum e o que quero ressaltar hoje, é que todos são Músicos de Rua, estão presentes por toda a parte do mundo, seja por necessidade devido à falta de emprego, por amor à arte ou por prazer de se fazer o que gosta, eles estão lá e para esses músicos, a rua é o seu palco principal e as pessoas que param pelo menos 5 minutos do seu tempo para prestigiar, são sua plateia. 
Há um projeto global muito bacana que inclusive foi dica de um querido amigo, Fernando Lima, grande conhecedor de música boa e quem me deu ótimas referências para essa edição. O projeto se chama Playing For Change, inicialmente era uma banda criada pelo produtor Mark Johnson e pelo musico Roger Ridley, começou com um documentário e se tornou um grande fenômeno. O primeiro vídeo que foi produzido reuniu mais de 35 artistas de rua, inclusive do Brasil, ao som de Stand by Me de Ben E. King, logo de cara teve mais de 20 milhões de acessos no youtube, para eles a música não tem fronteiras e é através dela que eles buscam a harmonia e a paz, o grupo viaja pelo mundo com a missão de inspirar e conectar todos os músicos de rua de diversas origens e etnias. O resultado é espetacular, vale a pena conferir.
Neste site você confere a agenda de um grupo de artistas de Rua do Rio de Janeiro, incluindo músicos. Eles se apresentam em diversas partes da cidade. O projeto surgiu “devido à dificuldade dos artistas de viverem exclusivamente do trabalho nas ruas sem nenhum apoio e a constante desvalorização da arte fora do teatro”. 
E quem disse que não há músicos de rua na nossa terrinha, uma figura conhecidíssima do pessoal é o “Gaitinha”, que apesar de não viver exclusivamente da música, fica cantarolando e com sua gaita conquista olhares de curiosos, turistas e próprios moradores daqui da cidade que passam pelo posto Batovi, localizado na entrada da cidade. Pesquisando sobre esse fiel tradicionalista, achei o blog Viva São Gabriel, que fala mais a respeito. 
É bom lembrar que tais artistas, também conhecidos como saltimbancos (significado=artista de rua), expõem sua arte nas calçadas da cidade com a intenção de divulgar o seu trabalho, o seu produto, alguns em troca de poucas moedas que servem muitas vezes para sua própria sobrevivência e outros pelo simples entretenimento, sendo que estas ralas gorjetas são usadas para a manutenção do seu instrumento. Seu palco é a calçada, a praça, a rua (La Calle), e o seu público, nem tão fiel assim, é a sua plateia, que muitas vezes se pega assoviando pequenos acordes ouvidos na rua. São abordados no cinema, no teatro e em novelas, e pasmem até mesmo no Cirque Du Soleil tem um espetáculo que aborda o tema Saltimbancos. São artistas que enfrentam dificuldades e muitas vezes algum tipo de preconceito, pois para muitas pessoas, esta profissão é sinônimo de vadiagem, mas infelizmente não fazem a mínima ideia da trabalheira que enfrentam todos os dias. Apesar dos pesares, são estes artistas que tornam as ruas das cidades mais alegres, com mais cores, mais sons, mais vida.

2 comentários:

  1. Amiga Ciba.
    Nos estavamos nesta viagem, e lembro de pararmos para ouvir, o corre, o burburinho, mas sempre que havia uma musica parece que o silencio dominava, para que se pudesse escutar aqueles musicos anonimos mas nao por isto sem qualidade, a musica deles parecia ter alma. Muito bem colocada a tua coluna.
    Abração deste leitor assíduo.

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    1. Sim meu amigo, a música tem essa magia! Grata pelo auxílio e pelo carinho!

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