Coluna-Ponto-de-Vista-2

Textículos do Mário Mércio

Mário Mércio
Colunista do blog

APERTANDO UM BOTÃO 
Eu estava em uma clínica para disfunção erétil. Os pacientes pareciam morrer de vergonha porque, se estavam ali, tinham algum problema fálico. Andavam meio “pra baixo”, se é que vocês me entendem. Não conseguem ter ereção pelos mais diversos motivos: diabetes, complicações pós-cirurgia para retirada de câncer de próstata, traumas na coluna (caso de paraplégicos) e homens com graves problemas de circulação de sangue. Mormente alcoólicos e tabagistas. Procuram o especialista em implante peniano para dar um “up” em suas vidas. Na placa o nome: Dr. O. Pinto Velho 
E esse doutor, com uns 80 anos, tem sobrenome literalmente digno de nota. “Deve agregar alguma credibilidade à sua carreira”, pensei enquanto aguardava. Queria entender como funciona uma tal prótese inflável milagrosa, cujo preço pode chegar a R$50 mil – só o material. Poucos convênios cobrem a quantia, mas há modelos mais simples (como a maleável, que não deixa o pênis totalmente rígido) que custam entre R$3 mil e R$12 mil.
Na sala de espera um paciente operado, que já tinha uma, fazia comentários. Puxei o assunto e ele fez questão de garantir a maravilha da mecânica toda antes que começasse a minha consulta. O Dr. Pinto Velho me recebeu com o dispositivo bem à mostra sobre a mesa do consultório: uma haste, uma pequena bolsa com líquido e um botão com um fio, começou a explicar com a haste na mão esquerda: - Na cirurgia, que dura de duas a três horas, esta haste é introduzida ao longo do corpo cavernoso, dando sustentação. Esta pequena bolsa de soro é acomodada próxima à bexiga e um botão, no saco escrotal. Tudo conectado por este fiozinho – apontava para o fio e me olhava acima dos óculos caídos na ponta do nariz aquilino. - Quando o botão é acionado, a bolsinha libera o líquido que vai inflar aos poucos o implante e endurecer o pênis — completou.
Logo me veio a imagem de uma ascensorista, aquela moça que vive apertando os botões do elevador. Imaginei-a na cama com o namorado recém operado: “sobe ou desce?”. Tento evitar, mas esses pensamentos idiotas sempre me traem nas horas mais inadequadas. O fato é que os pacientes saem do centro cirúrgico doidos para fazer o “test drive”, mas é preciso aguardar pacientemente por 40 dias, adverte o Dr. Pinto. A prótese inflável não aumenta o tamanho do pênis, mas “a grosso modo” muda o diâmetro dele. 
Após a explicação do Dr. Pinto Velho, muito técnica e didática, fiz menção de ser mais explícito: - “Eu entendi, doutor. Não precisa explicar mais...” Ele cortou-me a conversa e fez questão de mostrar toda a potência de sua maquininha. Enfiou a mão no bolso da calça social e, com um movimento rápido de quem ajeita as bolas, apertou o botão. O volume do gancho da calça dele cresceu quase tão rápido quanto o vermelho das minhas bochechas. Aí ele olhando-me com um sorriso idiota e disse: - “E o melhor é que não passo mais constrangimentos com mulher nenhuma”, arrematou o médico de uns 80 anos.— Pudera! –pensei e ainda quis perguntar algo como “e o senhor sente prazer com essa bexiga aí dentro?” Mas balbuciei: - “Hum, legal. E não perde a sensibilidade doutor?” - Não, não perde— respondeu de imediato, colocando a mão no bolso e baixando o volume da calça. 
- Obrigado doutor, mas não estou interessado, por enquanto. A curiosidade prende-se ao fato de ser escritor e precisar informar aos meus leitores, acho que muitos vão procurá-lo. Ele ficou parado, aproveitei para sair dali, procurando não estender-lhe a mão. 
Bati o portão da clínica pensando em como a vida das mulheres seria mais fácil, se ficar excitada fosse tão simples quanto apertar um botão. Quer dizer, não deixa de ser…

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