Palavras Soltas
Cecilia de Assis Brasil Petrarca Figueiredo
Colunista do blog
Nesta data maior da história do nosso Estado, é fácil ouvir um patrão de CTG com sua fala firme, com palavras simples aprendidas em reuniões regadas a mate o porque de comemorarmos esta data. Seria ainda mais fácil perguntar a um adolescente qualquer se ele sente orgulho do seu Estado e ouvir uma resposta afirmativa e entusiasmada, daquelas dadas só por aqueles que não sabem do que estão falando. Mais fácil ainda, ridiculamente fácil, seria chamar um historiador e pedir que ele discorra sobre o significado simbólico da Revolução Farroupilha, da sua importância para a constituição da identidade dos gaúchos, dos ideais da oligarquia dominante no RS daquela época e dos interesses econômicos que motivaram a Revolução. Provavelmente ninguém leria o texto, mas já teríamos cumprido com a pauta do dia.
Pois a verdade é que não escolhi nenhum dos caminhos acima. Em vez de optar pelo que fizeram todos – e eu friso este “todos” – os meios de comunicação do RS para comemorar a data que ora corre, decidi fazer o inédito em casos como esse: dar voz a um morto. Sim, um morto – não qualquer morto, é claro,mas um morto mesmo assim. Penso que somente ele tem condições de dar uma explicação satisfatória, principalmente para os jovens de hoje, sobre o que foi de fato a Revolução Farroupilha e porque estamos nós, aqui, em clima de celebração. Este morto não é ninguém menos do que o general Bento Gonçalves da Silva, o comandante da Revolução que hoje celebramos e da qual tão pouco sabemos.
Para tal explicação que fundamenta exatamente o que devemos comemorar, transcrevo abaixo o documento que transcreve o discurso,proferido em assembléia provincial no ano de 1842, que o general deixou para a posteridade, isto é, suas palavras, profundas e eternas, sobre a marca que ele e seus companheiros deixaram na história do mundo.. Está mantida a grafia original do texto.
“Srs. representantes da nação rio-grandense!
Depois da eroica revolução, que operámos contra os opressores da nossa pátria, depois de uma luta obstinada, que por espaço de 7 annos absorve os nossos cuidados, xegou finalmente a época, em que sem grande risco se verifica vossa reunião exigida altamente pelo voto publico.
Meu coração palpita de prazer, vendo oje assentados n’este venerando recinto os escolhidos pelo povo, em quem estão fundadas as mais belas esperanças do nosso paiz. Eu me congratulo comvosco.”
(…)
Si me não é dado anunciar-vos o soleno reconhecimento da nossa independência política, gozo ao menos a satisfação de poder afiançar-vos, que não só as republicas vizinhas, como grande parte dos Brasileiros simpatiza com a nossa causa.
Mui dolorozo m’é o ter de manifestar-vos, que o governo imperial, surdo á voz da umanidade, e com escandalozo desprezo dos mais sãos princípios da siencia do direito, nutre ainda a pertinaz pretenção de reduzir-nos pela força, e por em meu profundo pezar se diminue com a grata recordação, de que a tirania acintosa exercida poe elle nas provincias tem despertado o innato brio dos Brasileiros, que já fizerão retumbar o grito da rezistencia em alguns pontos do Imperio.
É assim, que seu poder se debilita, e se aproxima o dia, em que, banida a realeza da terra de Santa Cruz, nos avemos de reunir para estreitar laços federaes á magnanima nação brasileira, a cujo gremio nos xame a natureza e nossos mais caros interesses.
Todavia o que deve inspirar-vos mais confiança, o que deve convencer-vos de que alfim triunfarão nossos principios politicos, é o valor e constancia de nossos compatriotas; é alfim a rezolução, em que se axão de sustentar a todo custo a independencia do paiz. (…)”.Eis aí, o verdadeiro sentido desta data. Bento Gonçalves, general do exército brasileiro , queria uma república para todos os brasileiros, e para isso contou com a ajuda de voluntários de outras partes do país que não aguentavam mais assistir as outras nações americanas proclamarem suas nações livres, independentes e democráticas. Queriam o mesmo para si, e acabaram por conseguir quatro décadas depois. República que, aliás, teve mais presidentes do Rio Grande do Sul do que de qualquer outro Estado.
É este o motivo do “20 de setembro, precursor da Liberdade”. E é por isso que comemoramos a Revolução Farroupilha.
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