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Coluna Giancarlo Bina

VIVA O RÁDIO – PARTE 3 


“Se macumba ganhasse jogo, o campeonato baiano terminaria sempre empatado!” Esta frase é muito conhecida no meio do futebol e remete ao fato de que o espírito religioso pode influir em uma decisão ou em uma simples partida. Ainda lembro, na decisão do Campeonato Brasileiro de 88/89, da figura caricata do “Lorinho”, macumbeiro-torcedor do Bahia, que “amarrou” os jogadores do Internacional, tornando o Bahia campeão daquele ano. 

Não estive transmitindo essa decisão, mas estive em outra não tão menos importante. Gauchão de 1997, decisão no Gigante da Beira-Rio, envolvendo Internacional e Grêmio. O tricolor praticamente dono da década, um clube organizado, recheado de bons jogadores, atual campeão da Copa do Brasil, com Evaristo Macedo como treinador. Danrlei, Arce, Mauro Galvão, Paulo Nunes, recém chegado da Seleção Brasileira, dentre outros tantos bons jogadores em um time consistente. O Internacional afogado em crises, vendo o principal rival vencer grandes competições e com a cobrança interna e externa de vencer o Ruralito sobre o maior rival. Celso Roth fazia sua primeira passagem pelo colorado e o time tinha alguns bons jogadores e a perspectiva de uma evolução positiva com o comandante.

Fomos transmitir a esta grande decisão pela Rádio São Gabriel, eu, Jota Bina, Solano Lopes e o Caco Freitas. Ao ingressarmos no gramado já sentimos o caldeirão que seria o Beira-Rio naquela noite. Lotação esgotada, colorados e gremistas tomaram conta de seus espaços, o jogo seria realmente quente. Uma cena inusitada nos chamou à atenção: balas de mel circundavam todo campo do Gigante, centenas delas bem dispostas ao redor do gramado, colocadas milimetricamente. Atrás das goleiras, imagens de santos, com algumas velas ao redor. 

O jogo começa, muita virilidade, marcação forte, velocidade, alguns toques de qualidade e o gol decisivo marcado por Fabiano, o homem Grenal.. O colorado vence e, depois das entrevistas sobre o jogo com os jogadores, fui perguntar sobre as balas ao redor do campo para alguns membros da direção. “Não é assunto nosso, pergunte ao pai-de-santo”-responderam-me. 

Dizem que as balas de mel foram para adocicar o ti me do Grêmio. Independente disso, parece que 97 foi um ano bom para gremistas e colorados que levantaram taças e tiveram, pelo menos, algum prazer que não gastronômico. No futebol, assim como na vida, o misticismo e as crenças também tem seu lugar reservado. 

PS: nenhum de nós se atreveu a tocar nas balas.

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