Novos fósseis podem ser descobertos em região onde "matador dos pampas" foi encontrado, diz paleontólogo
A apresentação do crânio de um antepassado dos mamíferos, na terça-feira, não encerra as pesquisas por fósseis na região da Campanha e Fronteira Oeste. De acordo com o paleontólogo Juan Carlos Cisneros, a partir do segundo semestre, escavações já existentes serão revisitadas.
— Sempre existe a possibilidade de encontrarmos bons achados. A região ainda é pouco explorada — afirma Cisneros, citando São Gabriel, Aceguá, Dom Pedrito e Rosário do Sul como as cidades mais propícias a novas descobertas.
O paleontólogo foi o responsável pela pesquisa que identificou uma nova espécie (Pampaphoneus biccai), um predador que pode ser considerado um parente pré-histórico dos leões. O fóssil foi localizado em 2008, em São Gabriel, e apresentado hoje, no Museu de Paleontologia do Instituto de Geociências da UFRGS, depois de quatro anos de trabalhos de limpeza e restauração.
Segundo Cisneros, a possibilidade de novas descobertas aumenta em razão de as camadas de rochas estarem mais expostas. As novas pesquisas, porém, ainda não têm data exata para iniciar.
O predador dos pampas
O Pampaphoneus biccai teria vivido no Rio Grande do Sul há mais de 260 milhões de anos. Os quatro dentes caninos grandes e curvados, em forma de gancho, são característicos de um carnívoro. Além disso, o crânio com quase 35 centímetros de comprimento (da parte posterior à ponta do focinho) apresenta oito pequenos dentes com serrilhas e outros quatro dentes incisivos em cada lado, totalizando 52 dentes. A nova espécie trata-se do primeiro animal carnívoro que viveu na América do Sul na Era Paleozoica.
De acordo com os cálculos dos paleontólogos, o predador pré-histórico seria quadrúpede e teria até três metros de comprimento (da face à ponta da cauda). Ele habitou a Terra no período Permiano, em uma época em que os continentes estavam se reagrupando. Alguns fósseis de animais semelhantes ao Pampaphoneus já foram encontrados na Rússia e na África do Sul.
Cisneros supõe que ele teria migrado entre as regiões devido ao alto poder de adaptação ao ambiente. Por comparação, o paleontólogo traça um paralelo com o puma, felino de grande porte que pode ser encontrado nas Américas:
— Ele era um predador de topo da cadeia alimentar, o equivalente ecológico a um leão. Ele desempenharia o mesmo papel na natureza que os grandes felinos.
No ano passado, o mesmo grupo de pesquisadores identificou um herbívoro da espécie Tiarajudens eccentricus, encontrado na mesma região. Cisneros afirma que o Pampaphoneus seria o predador deste animal. Ele ressalta que também já foram encontrados em solo gaúcho vestígios da existência de alguns anfíbios e répteis:
— No Brasil, quase tudo que se conhece desse período geológico foi encontrado no Rio Grande do Sul ou no Paraná.
O período Permiano foi o último da Era Palozoica. Cisneros destaca que o clima na região gaúcha, na época, era mais árido e sazonal, com grandes períodos de chuva e de seca, como no continente africano atual. Além disso, ele destaca a existência de muitos vulcões na época, cuja ação teria causado a extinção de 90% da vida existente na Terra.
Segundo Cisneros, a descoberta do predador dos pampas deverá ser publicada nesta semana na revista americana Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
Fonte: Jornal Diário de Santa Maria
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