Filosofias Baratas

Rossano Barata

Colunista do blog

"Enquanto isso Jesus grita a todos que essa não é 

a verdade. Que nunca disse que era contra os homossexuais, nem que as religiões afro-brasileiras 

eram coisa do demônio."

Os Vendilhões do Templo

«... e Jesus expulsou todos os que ali vendiam e compravam, derrubou as mesas dos cambistas, e as cadeiras dos que vendiam as pombas; e disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; vós, porém, a fazeis covil de salteadores.» (Mateus 21:12-13).’

Olá amigos! Começo a coluna de hoje citando nada menos que meu amigo, meu irmão, o grande Jesus Cristo. No momento exato em que proferiu estas palavras, ele devia estar um pouco indignado com o que estavam fazendo da casa de seu pai. Imagino o que ele faria hoje em dia se estivesse aqui, e visse como algumas de suas igrejas são “dirigidas” por alguns pastores. Imagino-o entrando em um templo, com suas vestes simples, cabeludo e barbudo. Imagino aquele homem de aspecto duvidoso, mais parecido com um cantor de rock do que com um santo, tomando um lugar ao lado de outros fieis, abrindo sua bíblia e se preparando para a oração. Os olhares curiosos para aquele homem exótico. Os outros fieis comentando que aquele homem estranho devia ser um drogado a procura de ajuda. E Jesus pensando: “... estou em casa... estou na casa de meu pai!”

Chego a ver claramente o pastor entrando em cena. A agitação da plateia. O silêncio que prenuncia o início dos trabalhos. Jesus escuta as músicas, todas dedicadas a ele e a obra de seu pai. Logo após as primeiras palavras, Jesus escuta seu nome e fica feliz. Escuta sermões e provérbios e reconhece neles suas palavras. Ele começa a ver que nem tudo está perdido, existe sim salvação para a humanidade! E quem era aquele homem? Quem era aquele homem que utilizava suas palavras e que pregava de uma maneira tão espetacular que faria inveja até ao próprio apóstolo Pedro. Jesus estava feliz! O mundo tem salvação...

Mas de repente tudo mudou. A prosa tomou outro rumo. Algo que o faria lembrar-se de algo que aconteceu em um local semelhante a 2.000 anos atrás. E ele não podia acreditar no que seus santos olhos viam. Novamente ele via a casa de seu pai se transformando em casa de comércio. Depois de tanto tempo Jesus encontrou novamente os Fariseus, seus algozes impiedosos. E de novo lá estavam eles a distorcer as escrituras sagradas de seu pai. Isso foi demais para ele. E repetindo o mesmo gesto, assim como há 2.000 anos, Jesus não controla sua ira e começa a destruir o templo. Para os demais fieis que assistem perplexos a cena, este homem de aspecto rude e grosseiro só pode estar “endemoniado”, louco ou drogado. Enquanto isso Jesus grita a todos que essa não é a verdade. Que nunca disse que era contra os homossexuais, nem que as religiões afro-brasileiras eram coisa do demônio. Que o sexo era algo natural, e que o prazer era um privilégio dado aos homens, e que estes podiam senti-lo sem culpa. Que Deus hora nenhuma nos obrigou a seguir certo padrão de comportamento, pois não nos queria iguais, pois se assim quisesse não nos teria feito tão diferentes uns dos outros. Que Deus não precisa de dinheiro e que, o que importa para ele é salvar a sua alma. Deus é o dono do ouro e da prata, e isso está escrito na bíblia... mas infelizmente a chegada de uma viatura de polícia acabou interrompendo o sermão do filho do homem.

Jesus foi contido “a força” por dois policiais militares. Um sargento e um soldado, também frequentadores da igreja. Na primeira cacetada que recebeu na cabeça sentiu o gosto do sangue na boca. Na segunda, desferida pelo soldado desmaiou. Imaginou antes de apagar uma nova via-crúcis. Mas dessa vez não foi isso que ocorreu. Foi levado de viatura ao HPS, onde foi tratado por um enfermeiro que também era frequentador da igreja. Recebeu os pontos sem anestesia. Foi levado a delegacia onde o delegado de plantão também era frequentador da igreja. Foi lavrado o flagrante em que constava: agressão, resistência à prisão, falsidade ideológica (pois afirmava que era filho de Deus) e dolo e destruição de patrimônio privado. Nenhum advogado aceitou a causa, por que todos os advogados eram frequentadores da igreja. Três meses depois foi julgado e condenado (o juiz também era frequentador da igreja). Ao chegar ao presídio teve de ser colocado em separado dos demais presos, pois a maioria escutava o programa que a igreja tinha no rádio. Sozinho na cela, sem compreender o coração dos homens olha para o céu e exclama: “Perdoai–os Pai...eles não sabem o que fazem!

Até semana que vem...