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Textículos do Mário Mércio

Mário Mércio
Colunista do blog

ESTOU VIVO. Isto é, não morri
Passeava em alhures, quando de repente, eis que encontrei um velho conhecido aqui do facebook. Joel já foi logo me intimando:-- O que aconteceu contigo, estavas desaparecido!
-Putz amigo, eu estava viajando, possuo filhos esparramados por este mundo e, vez outras, visito-os.
Ai lembrei-me do filósofo francês René Descartes: “penso logo existo”, que  redefiniu o comportamento humano já no século 17, afirmando nossa racionalidade, nos diz C Há, atualmente, algo mais importante que o primeiro verbo da lição de Descartes: POSTAR. É como a mulher de César, que não bastava ser fiel, era preciso parecer fiel. Hoje em dia não nos resta estarmos vivos, é preciso PROVAR nossa existência.
E é assim, que a internet, esta invenção do exército americano para fins bélicos, informalmente ATUALIZOU Descartes: “ Posto, logo EXISTO”.
Ao ingressar numa rede social, a gente cruza uma estrada que nunca mais será a mesma, como definiu o filósofo grego Heráclito. Hoje, a exigência pública é de uma vida virtual atraente, que não simplesmente PENSE, como dizia Descartes, mas POSTE, para provar que está vivo.
Se passar tempo na vida real sem contato virtual você poderá ser interpretado como morto prematuramente. “Só não samba quem já morreu”, fala-nos uma música.

Também tem o verbo curtir, que é transitivo direto, já vem encravado na sociedade contemporânea. Tornou-se uma convenção social, para mim, menos confiável que as conversas no cafezinho. Será que quando alguém curte aquilo que escreveste, ele leu? Ou está apenas te provando que ele existe, que ele te considera ou que ele concorda? Ou pode também estar curtindo tudo que esta na sua tela, para que você também curta o que ele posta; é a chamada retribuição de gentileza. Mas mesmo assim, tirando o voyeurismo curioso e a invasão de privacidade exacerbada dos mais exibidos, a internet vem derrubando mitos de mediação de comunicação. Pode-se de qualquer lugar interagir com qualquer pessoa a custo zero,  vê-la, conhecê-la, etc. Em qualquer parte do mundo.
Mas as CURTIDAS alheias preenchem vazios, carências e alimentam nosso ego, isso é real, digo virtual.
Mas contrariando Descartes ou eu diria, o colunista Cristofer do VS, que bem definiu este texto, é a possiblidade de um morto ter seu perfil ativo e nele a gente ver felicitações de aniversário e mensagens de consternação. Pessoas que ficam interagindo com o morto, como se ele estivesse vivo; pois os parentes não sabendo a senha, é necessário que você o delete, senão seus posts seguirão aparecendo na tela dele. Esta é a máxima representação dos universos paralelos da física quântica. A teoria do físico EUA Hugh Everest II está mais próxima de nós do que possamos imaginar. São os perfis eternos. A internet não precisou seguir Descartes, apenas atualizá-lo, digamos. Durante milênios a humanidade buscou o elixir da vida pela ciência e pela religião, que ironicamente foi encontrada pela tecnologia.
Afinal, meu caro leitor, agora é melhor você curtir ou compartilhar, pois você EXISTE. Na verdade, faça isso para que eu tenha CERTEZA QUE EXISTO.

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