Textículos de Mário Mércio

Mário Mércio 

Colunista do blog

CANTINHO DA BAGUNÇA 

É difícil a casa que não tenha o canto da bagunça. Ali só nós sabemos onde achar o que procuramos: agendas perdidas, objetos desaparecidos e algumas ferramentas, e coisas ou objetos que ...TALVEZ um dia a gente vá precisar, AGORA, precisamos acha-lo, para fazer AQUILO que desejamos. A bagunça pode machucar. Mas quando ela só machuca a gente, o sofrimento é suportável, pois é só a gente que sofre com as consequências de estar ali revirando tudo e irritado por não achar. Não adianta aconselhar ninguém a evitar esta bagunça, pois as bagunças são incuráveis. Acho que aquele sujeito certinho, organizado, também tem seu cantinho da bagunça, onde deixa as ferramentas da bicicleta ali no chão, para arrumar depois, a tinta, os pincéis no copinho de solvente e a caixinha de parafusos e buchas e alguns pregos ali jogados.

Vez por outra, eu me encho de vergonha e parto para a arrumação. Mas as boas intenções duram pouco e tudo volta, em poucas semanas na mesma bagunça de sempre.

Mas há a bagunça de ideias. O inconsciente é uma bagunça infernal. Ideias de imagens dançando o tempo todo numa orgia de desordem incontrolável. E é dessa bagunça que nasce a literatura. Quem lê um livro nem imagina a bagunça de ideias que passou pela cabeça do autor, desde o nome dos personagens ( para mim tarefa das mais terríveis). O leitor vê tudo ali bonitinho, organizado, coerente. Não tem a mínima ideia do caos de onde nasceram. Nietzsche, filósofo alemão, dizia que o segredo da criatividade é ser rico em contradições. Já os textos sagrados pregam que no princípio tudo era o caos, e foi do caos que nasceu a beleza. Mas a psicanálise que se diz explica tudo, diz que todo esquecimento é um ato de uma vontade inconsciente. Claro, nem Freud explica tudo. Há o esquecimento normal, o relaxamento normal, que formam a bagunça. E não há como controlar isso, me perdoe os certinhos e organizados, mas o cantinho da bagunça, aqui em casa é um charme.