Textículos do Mário Mércio
Mário Mércio
Colunista do blog
VIAGEM DE TREM INUSITADA
Quem mora na região
metropolitana, pode se deslocar a Porto Alegre de TREM URBANO, chamado
de TRENSUB. São cinco composições geralmente, que se deslocam nos dois
sentidos, ida e volta. Entra e sai gente em todas as paradas e foi depois da
parada da UNISINOS, a 4ª.PARADA quem sai de Novo Hamburgo, da Santo Afonso, que
uma moça deu um grito e apontou para o chão, bem no fim da composição e mostrou
alguma coisa surpreendente para sua amiguinha, que também se surpreendeu, mas
logo passaram a rir, um riso de indignação e estupefação.-- Isso já é demais
–disse.
Como era bem perto de mim, onde sentam
os idosos, olhei de soslaio e vi, nada mais, nada menos, que um singelo cocô.
De gente, sem dúvida. Todos sabiam, genericamente, de onde ele tinha saído, mas
não de quem, e menos como chegara até ali. Como estava ao lado de minha
poltrona, era eu o primeiro suspeito, por isso tratei logo de organizar uma
cara de inocente perplexidade. Não havia nenhuma dúvida de sua origem humana,
que o culpado saíra do trem ou entrara necessitado e estava naquele momento,
dentre os trinta passageiros ali, mudos e desconfiados. Arrisquei uma rápida
olhadela a todos circunspetos passageiros e pareciam mais inocentes do que eu.
Um professor universitário, de
minha idade, ao meu lado, passou a tecer tese e discutir cientificamente como
aquele “negócio” se materializara logo ali, sem que ninguém visse. Chegou a
imaginar que viesse colado a uma sola de sapato, inocentemente, mas roliço e
intacto como se mostrava, a tese foi afastada por um numero grande de
estudiosos no assunto. Daí surgiu a hipótese, que ganhou mais aplausos, de que
teria sido depositado ou caíra, contra a vontade e os melhores hábitos de seu
desafortunado produtor. Um até sacudiu a calça, mostrando que era possível
sair, sim, daquela forma, num desespero, condenando não haver onde expeli-lo no
trem, adequadamente.
Enquanto discutiam calorosamente
e filosoficamente o fato, cuidei de trocar de lugar, pois, como outros, o
cheiro começou a me perturbar, já que não me envolvi na acalorada discussão.
Logo um empregado do trem
anunciou, para quem quisesse, havia lugar noutros vagões. Perguntado por que
não limpava, informou pacientemente que essa não era sua atividade e
atribuições, e que o sindicato proibia limpar cocô de passageiro.
De todo insólito incidente, ou
sólido, no caso, o que ficou foi que o cocô viajou até POA, altaneiro e sem
prejuízo de ser pisado ou amassado por alguém e até rejeitado por uns, tomando
conta de cinco lugares vazios ao seu redor.
Não sei se foi impressão minha,
mas na chegada a Porto Alegre, na estação do Mercado Público, uma senhora me
olhava com um olhar estranho e pareceu sacudir a cabeça com reprovação.
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