Textículos de Mário Mércio
Mário Mércio
Colunista do Blog
O Mais que perfeito
A Língua Portuguesa tem em sua gramática uma figura muito peculiar e também inusitada, digamos assim; o mais-que-perfeito. Trata-se de um tempo verbal que não existe em outro idioma e expressa a ação que nosso sujeito estava fazendo no passado quando foi interrompido por uma ação também no passado, mas um passado mais no futuro. Deu para entender? Sei que é difícil. Custei a compreender isso.
Agora passamos para a prática: e na vida real? Existe o “mais-que-perfeito”? As pessoas, mormente aqui no facebook costumam postar mensagens lindas, de exemplos de vida, o que na lógica, presume-se que elas seguem à risca estas mensagens. Eu acredito que elas seguem e você? Ou elas querem que você seja assim tão exemplar?
Mas é comum ler ou ouvir alguém dizendo que ”nada é perfeito”. Se nada é perfeito, vamos raciocinar... Como pode existir algo ainda mais do que perfeito? Esse pensamento me incomoda.
Convenhamos: o perfeito até existe, em ações simples. O problema é que nas sociedades complexas tudo fica perfeitamente complicado e, então, não é mais possível, com tantas variações, atribuir a qualquer coisa status de perfeição.
Mas se olharmos para as coisas pequenas no nosso dia-a-dia, veremos que o perfeito está ali ou lá. Exemplos: a borboleta voando, a tonalidade azulácea do céu claro, o rio que corre caudaloso, a onda que quebra na praia, a linda mulher de cabelos esvoaçantes. Não, não estou sendo piegas, não me refiro à beleza das coisas pequenas, e sim a sua exatidão, isto é, a característica de ser exatamente o que é, sem pôr a mais ou a menos, pois uma borboleta é uma borboleta, perfeitamente adaptada ao ambiente de sua espécie e assim, perfeita em sua individualidade, assim como a linda mulher que corre na praia, na sua empáfia e elegância. Isso não é artificial, isto é natural. O problema com as coisas artificiais, na sua perfeição, é que elas vão preceder outras e outras, e na comparação perdem a perfeição. É a criação que não tem limites, o artista que é sempre suplantado, mas é incomensurável.
Voltamos ao mais que perfeito: Se existe o perfeito, o que dizer do “mais-que-perfeito”? Ai entramos no terreno dos milagres... E milagre não se discute!
O perfeito pode ser chato, enfastiado e até entediante e o “mais-que-perfeito” será sempre luminoso, dadivoso, onírico.
No entanto, buscar o perfeito pode ser ganância e ambição e até inescrupuloso. Já o “mais-que-perfeito” ninguém o critica. Pois não pode ser criticado, só elogiado, porque já vem com consciência superlativa, que já passou do perfeito e por isso está acima de tudo.
E quanto ao “futuro do pretérito”? Você já parou para pensar nele?
Disk-notícia:(55)9 9664.2581