Os gritos do Ministro e o silêncio da Ministra
02 de setembro de 2015, Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul. Audiência Pública sobre os conflitos e invasões indígenas a propriedades rurais no Estado. O ministro da Justiça, Eduardo Cardoso, está presente. Na reunião, a produtora rural Mirian Correia, que teve sua propriedade rural invadida em 2013 por indígenas e até hoje aguarda a reintegração de posse, indagou ao ministro sobre que providências seriam tomadas. O que se seguiu, na resposta de Sua Excelência, foi um festival de impropérios e grosserias inacreditáveis, ainda mais quando ditas a uma mulher de mais de 60 anos, que depois de sua propriedade rural invadida e saqueada, foi roubada também em sua dignidade, sendo humilhada publicamente pelo senhor ministro.
Felizmente, com o advento da Internet, as patacoadas de homens públicos ditas em ambientes privados também passaram a ser públicas. A gravação está aí para quem quiser ver: o ministro, que fala fino com os índios e o MST, fala grosso com uma senhora idosa, ameaçando de investigá-la por “incitação à violência”. Uma senhora que, apesar de ter a posse legítima de sua propriedade nas mãos de sua família desde 1873, é tratada como criminosa.
Inútil esperar que as tradicionais defensoras dos direitos das mulheres, como a ex-ministra Maria do Rosário, e a deputada gaúcha Manuela D’Ávila, ex-namorada do violento ministro, se manifestem defendendo uma mulher humilhada publicamente. Porque no caso, esta mulher é produtora rural, geradora de riquezas para o país, e não uma ex-detenta. Mas triste mesmo é o mutismo sepulcral, da outrora sempre falante ministra Kátia Abreu. Justamente por sua condição de mulher e liderança rural, que deve ao Centro Oeste sua condição de líder rural e senadora, era de se esperar uma condenação veemente à postura de seu colega. Hoje, triste sombra do seu passado glorioso, a ministra da Agricultura simboliza o tipo de político que o país rejeita: o que abjura seus ideais em favor de sua sobrevivência.
Mirian Correia, não nos conhecemos pessoalmente. Mas sua indignação me representa.
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