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"O povo de São Gabriel me acolheu", conta médico cubano que voltou a atender na cidade

Há um ano e meio, a vida do médico Geonel Puentes Daudicourt era considerada estável. Havia deixado Cuba há quatro anos em busca de uma vida melhor e morava em São Gabriel, cidade na região, onde passou a atender pelo programa Mais Médicos. Só que em novembro de 2018, a notícia de que Cuba havia deixado o programa pegou Geonel de surpresa. Ele precisou encontrar outras formas para sobreviver no país, que adotou como seu. Agora, ele conseguiu realizar aquilo que passou a ser o seu maior sonho desde então: voltar a trabalhar com Medicina.
Em abril, o Ministério da Saúde abriu novas vagas para profissionais estrangeiros pelo Mais Médicos. Geonel havia se mudado para a casa de uma amiga em São Paulo há pouco meses, e decidiu conferir o edital. Para a sua sorte, tinha uma vaga para São Gabriel.
- Eu decidi me cadastrar. Não tinha certeza se iria ser aceito, mas fiquei feliz só em saber que havia a possibilidade de voltar. No final, deu tudo certo e estou trabalhando já desde o final de abril - conta o profissional de 40 anos. 
O cubano assumiu a vaga que estava aberta na Unidade Básica de Saúde (UBS) Brandão Junior. Hoje, é o único profissional estrangeiro trabalhando no município. Mas essa realidade já foi diferente. Até 2018, 13 médicos cubanos atendiam em São Gabriel.
- Havia muitas pessoas do meu país trabalhando aqui. Alguns deles ainda permanecem aqui na cidade, mesmo após o fim do contrato, para ver se o governo abria novas vagas - afirma.
Geonel é um dos seis médicos cubanos que voltou a atender na região nas últimas semanas. São Vicente do Sul e Rosário do Sul receberam um profissional cada cidade e Santa Maria conta com três médicos de Cuba.

TEMPOS DIFÍCEIS
Quando parou de atuar como médico, Geonel precisou se reinventar. Trabalhou como atendente em farmácia, como cuidador e fez vários cursos, como de terapeuta holístico.
- Fiquei parte desse período morando em São Gabriel, mas depois de alguns meses fui para São Paulo. Foi bem difícil achar trabalho. Recebi muita ajuda de amigos para me manter nesse tempo - lembra.

LIGAÇÃO COM A COMUNIDADE
Quando perguntado sobre os motivos de querer voltar a São Gabriel, o médico foi enfático:
- O povo de São Gabriel me acolheu. Aqui, eu me sinto bem e fiz muitos amigos. O Brasil é a minha pátria, e São Gabriel, a minha casa. Me sinto muito bem no país e quero fazer de tudo para continuar. Sinto que os cubanos ganharam o coração dos gabrielenses. Não só eu, mas os meus colegas que trabalharam aqui também. No começo havia um pouco de receio na população, mas essa resistência logo foi quebrada - diz. 
Geonel relata que sempre gostou de atuar próximo da comunidade e trabalhar com saúde da família, junto com agentes comunitários.
- É muito prazeroso fazer esse acompanhamento a longo prazo dos pacientes, ver um idoso se recuperar, as pessoas com doenças crônicas melhorarem... Tem crianças que eram bebês quando eu conheci, e agora já estão com 4, 5 anos. Acompanhar esse desenvolvimento é muito gratificante.
Atualmente, o cubano não pensa em voltar ao país de origem. Mantém contato com a família pela internet e convive com uma prima que também atua no Mais Médicos e mora em Veranópolis.

MORADORES CRIARAM AMIZADE
A agente de saúde Alessandra Santana trabalhou 10 meses com Geonel na UBS Bom Fim, onde ele atuava até 2018. Ela destaca a atenção que o médico dá a cada paciente:
- Ele sempre foi um médico dedicado e atencioso. Um médico que sempre investigava o que o paciente tinha. Ele investiga bem para ter certeza do que dar para os pacientes. Cria realmente um vínculo com a comunidade e até ia nas casas das pessoas para saber como elas estavam.
A doméstica Verônica dos Santos tem um relato parecido com o de Alessandra. Ela foi paciente de Geonel e elogia o médico.
- Foi um dos melhores médicos que a gente teve no Bom Fim. Eu estava com problema na pele e nenhum outro médico conseguia descobrir o que era. Daí, chegou o Geonel e pediu exames, me colocou na fila para consultas com especialistas e, logo depois, eu fui diagnosticada com lúpus e psoríase. Além de ótimo profissional, é um ser humano sem igual - afirma Alessandra. 
 
Fonte: Diário SM

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