Palavras soltas

Cecília de Assis Brasil Petrarca Figueiredo

Colunista do blog

A minha vida é uma mistura de cheiros, cores e sabores...

Os dias frios dos meus tempos de menina, por exemplo, cheiram a café passado, bolinho de chuva, sonhos, arroz de leite com canela, pão feito em casa, nó de pinho queimando e fumaça, fumaça de lareira...

A minha vida de menina tem cores, cores suaves que se fundem e se confundem, nuances que vão do cinza claro ao amarelo pálido, incrível, estão cada vez mais desbotadas estas cores, tenho medo que se apaguem....

Tem tantos sabores a minha vida... sabores de cheiros, de cores. E aqueles sabores de menina, agora percebo, nunca mais experimentarei... embora estejam aqui a me dar água na boca, não consigo sentir o gosto, nem o cheiro só as cores desbotadas, embotadas, apagadas...mas ainda estão aqui!

Tem também outros perfumes, outros sabores, outras cores a minha vida de menina, mas não os sei mais descrever... Mas eu sei que tem... sempre saberei!

São sutilezas, guardadas na memória, que me acompanham pela vida inteira. São sensações que me perseguem, me envolvem, me visitam o tempo todo sem precisarem de convite.

São saudades, são também o meu refúgio e abrigo quando me apetece voltar a sentir o abraço morno da infância. Sempre me apetece.... sempre voltarei...enquanto os invernos da vida me permitirem voltar.... bons e lindos dias de inverno que eu gostaria de ainda estar por lá...

Sentir aquele cheiro de casa de vó, a criançada cheia de sorrisos nos olhares e de olhos nos sorrisos, nos ouvidos e nos pensamentos. Atentas mas dispersas sem nem perceber o frio que se deitava nas calçadas, nas árvores, no ar e nas vidraças que se permitiam serem cenários de desenhos cheios de corações, estrelas e futuros sonhados. Tudo recheado com aquelas cores e odores que me acariciam meu paladar, bem como os sabores que ainda me chegam aos pulmões, coração, alma e invadem todo o meu ser...

Ainda tenho um pouco de tudo isto morando dentro de mim, pois as lembranças eternizam as felicidades e fazem dos invernos, verões, primaveras e outonos, paisagens com cheiro e gosto que não nos abandonam jamais...

Felizes o que guardam recordações de cores pálidas ou vivas, mas cores de vida que nos impulsionam a viver com mais intensidade o hoje sabendo que amanhã serão somados a estes retalhos de nos compõem, nos fazendo colcha quente a abrigar nossas saudades...