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“O agronegócio precisa de um 2017 menos caótico”, diz Tarso Teixeira

A recuperação da estabilidade econômica em 2017, tanto para o agronegócio quanto para outras cadeias produtivas da economia, irá depender em larga escala, da retomada da estabilidade política e institucional. A avaliação é do Presidente do Sindicato Rural de São Gabriel, o medico veterinário Tarso Teixeira, que nesta entrevista repassa o ano de 2016 no agronegócio local, além de traçar um diagnóstico sobre o que o agronegócio pode aguardar para o ano de 2017.
Como o senhor vê o encerramento de 2016? Foi aquilo que se esperava?
O que podemos dizer, sem dúvida alguma, é que o campo fez a sua parte. Em que pese termos sofrido com uma estiagem nos meses de dezembro de 2015 e janeiro deste ano, e depois com fortes chuvas de março e abril, a safra foi cumprida, com excelentes índices no arroz e no soja, por exemplo. No entanto, não há como tapar o sol com a peneira: os preços pagos ao produtor continuaram muito baixos, o custo de produção aumentou progressivamente, e no meio de tudo isso, o agravamento da crise econômica e política afetando o agronegócio como um todo.

Em setembro deste ano, veio o anúncio da conquista da exportação de carne in natura do Brasil para os Estados Unidos, México, Canadá e Japão. Mas aí no final do ano, a unidade do Marfrig fechou as portas no Alegrete, restando agora somente as de São Gabriel e Bagé. Como isso preocupa o setor? Eles dizem que a pecuária está sendo “engolida” pela lavoura, isso é correto?
Sem dúvida que a preocupação é grande. Há coisa de três anos, a unidade de São Gabriel estava na degola, e escapou por determinações de ordem judicial. Agora, com o fechamento do frigorífico de Alegrete, embora a empresa diga que as demais unidades continuarão funcionando normalmente, é evidente que isso causa uma apreensão no setor. O discurso de que há falta de animais para abate, não corresponde à realidade. O que há, de fato, é uma negociação comercial da indústria com o produtor muito desfavorável para o pecuarista, que acaba optando por outras destinações, até mesmo pelo envio de gado em pé. O Sindicato Rural, oficialmente, sempre defendeu a integração lavoura-pecuária, e aqui em São Gabriel existem iniciativas sólidas neste sentido. Mas sim, existe também o produtor que migrou da pecuária para a agricultura em busca de uma melhor remuneração, mas este é um movimento sazonal, que vai sempre mudar de acordo com o mercado.

Para o próximo ano, o que o campo deve esperar, principalmente o agronegócio aqui da nossa região?
O nosso grande gargalo ainda é a crise econômica, que é mãe da crise política. 2016 era o ano em que esperávamos estancar a crise política com a mudança da presidência, para o que a Farsul e a CNA inclusive cooperaram ativamente. Não foi, infelizmente, o que aconteceu. O cenário institucional está hoje profundamente corroído, com os três poderes se digladiando entre si e um novo governo que ainda não exerce a liderança que o país precisa. Devemos nos preparar para um cenário em que esta crise institucional tenha continuidade, e mais do que isso, agravando a crise econômica. Mas o gargalo econômico, sem dúvida, é o mais preocupante. O país está fechando no vermelho desde 2010, e nessa época ninguém ouvia falar de Sérgio Moro ou da Lava-Jato. As coisas só tenderão a uma melhora se de fato o país avançar nas reformas que estão sendo discutidas, como a da Previdência e do teto de gastos públicos. Mas mesmo com a economia crescendo, ela tende a crescer num ritmo muito pequeno frente ao que foi perdido. Mas acredito, como sempre acreditei, na força do produtor brasileiro, o grande responsável pela agricultura moderna que garante ao país o pouco de estabilidade econômica que não foi corroído pela política. Se as decisões macropolíticas se realinharem, vamos ter um 2017 mais promissor.
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